Resquícios de sábado à noite
no meu nariz todo dia eu encontro
é de segunda, é de quinta, é de terça
sempre aquela melequeira
na minha cama já não sobram calcinhas
só capsulinhas
e na minha mesa não vejo mais recados de amor
só poeira e canudo inerte a bolor
dentro de mim, na barriga comida, nas costas fadiga
e no pulmão e na cara?
Ai meu Deus, nem me diga!
E nem no dia que a caveira está na porta da loja
eu me arrisco sem medo e não saio de lá sem a droga.
E eu cada vez mais sensível, procurando armadura indolor
cada mais aflito em busca do amor
e se a morena ali do lado pra mim a saia levantasse, decerto que eu aproveitava, mas ainda assim não seria nada
se a Fernanda ou a Gisele aceitassem meu beijo, estaria eu ainda cheio de desejo
e se a Patrícia enfim me desse uma chance – era tudo o que eu queria até ontem – bem capaz que eu enchia minha cara de novo de sangue.
Dizem que se aprende com o erro, eu até concordo
e se eu continuo errando é porque não aprendi ainda, não chegou a hora
mas isso não pode ser burrice, acho que é mesmo assim.
No ano passado até tentei apagar com borracha o meu coração do peito
enterrar todos os meus sentimentos, e eu bem que consegui
mas até a escuridão um dia passa, o Sol nasce
até a crença um dia some, o corpo morre
até o maior de todos os amores um dia esfria, como a exaustão de uma bateria
até o monge tibetano um dia cai em engano...
Não choro apenas porque não produzo lágrimas
a tristeza e a solidão são amigas traiçoeiras
da sociedade nada espero, nem na paz e tampouco na guerra
de mim, certeza só o caixão (que quero que pintem de anil)
posso até me jogar na frente de um carro, pular do alto de um prédio, tomar Propofol como o rei do pop, insultar um homem armado da lei ou como Annie Taylor me enfiar num barril
mas nada, nada nesse mundo pode me trazer de volta aquele mês de abril.
16 horas e 4 minutos de 16 de dezembro de 2014.