domingo, 5 de abril de 2015

Cem doses de rum não me embriagam

Não existe no mundo

farelo de cocaína que me ponha pra cima

nem pedra de crack que me ponha pra baixo

nem cem doses de rum que me embriaguem

nem cachimbos de fumo que me relaxem

nem remédios controlados que me façam dormir

e nem anfetaminas que me tirem o sono

nem ayahuasca e nenhum outro elixir

que dilua a realidade num piscar de olhos

mas sem nem a cannabis me avermelha os olhos

e nem a cachaça me embrulha o estômago

nem seringas usadas me transmitem AIDS

e nem fita de vídeo me põe pra dentro dum filme

até tentei outro dia engolir uma pilha

do jeito que entrou saiu e ainda cheia de bateria

engoli os bacilos de Koch duma amostra velha e vencida

e nem assim peguei gripe

nem tosse, nem dor, nem febre ou sinusite

me joguei na frente do trem, o maquinista parou

ateei fogo na casa e os bombeiros a tempo chegaram

transei com uma mendiga...

nem cancro, nem sífilis, nem gonorréia peguei

Diazepam, Benflogin, Haldol e Rivotril

já tentei de tudo, até Krokodil

e nada me trás de volta aquele mês de abril

estagnei na realidade e dela não posso sair

e pra sempre será meu início, meu meio e meu fim.


3 e 15 da madrugada de 22 de outubro de 2014.

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