Não existe no mundo
farelo de cocaína que me ponha pra cima
nem pedra de crack que me ponha pra baixo
nem cem doses de rum que me embriaguem
nem cachimbos de fumo que me relaxem
nem remédios controlados que me façam dormir
e nem anfetaminas que me tirem o sono
nem ayahuasca e nenhum outro elixir
que dilua a realidade num piscar de olhos
mas sem nem a cannabis me avermelha os olhos
e nem a cachaça me embrulha o estômago
nem seringas usadas me transmitem AIDS
e nem fita de vídeo me põe pra dentro dum filme
até tentei outro dia engolir uma pilha
do jeito que entrou saiu e ainda cheia de bateria
engoli os bacilos de Koch duma amostra velha e vencida
e nem assim peguei gripe
nem tosse, nem dor, nem febre ou sinusite
me joguei na frente do trem, o maquinista parou
ateei fogo na casa e os bombeiros a tempo chegaram
transei com uma mendiga...
nem cancro, nem sífilis, nem gonorréia peguei
Diazepam, Benflogin, Haldol e Rivotril
já tentei de tudo, até Krokodil
e nada me trás de volta aquele mês de abril
estagnei na realidade e dela não posso sair
e pra sempre será meu início, meu meio e meu fim.
3 e 15 da madrugada de 22 de outubro de 2014.
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