sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Incêndio nos Campos Elíseos

A fumaça preta subia aos céus

e dali a pouco em todos os cantos da cidade podia ser vista

os carros parados queriam é se livrar do trânsito

não estavam nem aí

os operários da Eletropaulo continuavam trabalhando

e os ônibus correndo como loucos

até no Jaraguá a fumaça desfigurava a paisagem

mas nada disso comovia os transeuntes.


Lá embaixo as famílias desesperadas choravam

as mães gritavam ao imaginar o sangue escorrendo pelas paredes do prédio

os bombeiros sonhadores queriam apagar o vulcão com suas mangueiras

e o piloto quase cego dava jaula aos já enjaulados

nas rádios repórteres sérios

nas ruas observavam e fugiam do tédio

mas quem estava lá em cima rezava.


Que Deus os ajude! Que Deus os ajude!


11 horas e 32 minutos de 22 de dezembro de 2011.

Poesia sobre o incêndio em um prédio abandonado no bairro dos Campos Elíseos, região central da cidade de São Paulo, ocorrido no dia 22/12/2011.

Bandidagem

A casa caiu bandidage

agora é muita treta

gambé enfiado até os zóio

vai fazê visita po capeta

eles enfia no seu cu sem dó

os armamento da tua gangue

injeta na tua veia teu pó

vai fazê escorrê sangue

vão comê teu cérebro até fritá

quebra tuas perna só pra inverná

fazê as almas retorná

pras dívida mortal cobrá

quero vê segurá a onda

porque o bicho vai pegá

playboyzinho do morro agora

chão do esgoto vai limpá

mas se for comportadinho

mesmo atrás das gradinha

depois de levá espancadinha

dá pro esquema comandá.


22 horas e 11 minutos de 13 de novembro de 2011.

Poesia sobre a pacificação de favelas no Rio de Janeiro.

Vadias do Mackenzie

Enquanto papai prepara o caixa dois

e mamãe atende o depressivo

a putinha de M. Officer

exibe sua vulgaridade excessiva.


No ponto de ônibus lotado

a loirinha bem cuidada

mostra seu hematoma sexual

pago a vinho importado.


O chupão no seu pescoço

não intimida a sua amiga

que expõe também a tua marca

e conta sua noite de fadiga.


De uniforme tradicional

à la colegial

junto ao garoto irracional

são mais de 900 reais.


E de presbiteriana

ela já não tem mais nada

mas se quiser levá-la para cama

não esqueça do champanhe

e de uma bela chupada.


1º de dezembro de 2011.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Linha Amarela

Longe das velhas paredes feridas e sujas

o dinheiro público esbanja formosura

contos e contos de réis

correm por entre os trilhos

são quatro vias sem mão

decoradas de ouro bom

controle remoto para o cérebro

do maquinista imaginário esquisitérrimo

lá do alto das cabines

empacotam as mercadorias

por anúncios alucinantes de vitrines

e no projetor diamantina

corrompem cedo as crianças

e lá pro buraco fundo do esgoto

levarão seus corpos inertes

revestidos agora de metal fino.


2 horas e 1 minuto de 15 de novembro de 2011.

Poesia sobre a Linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo.

O Tempo

Gregório disse:

“Controlarei o tempo”

dos pés a cabeça

goela a dentro.


Os meus dias são contados

perdidos e incontrolados

vadios desajustados.


Meus sinos dobram ao amanhecer

para acordar todos da cidade

infelizes e incapazes.


Para lembrá-los do labor

pra que se percam em sua dor

em sua infinita vivacidade

infestada de obscuridade.


Mas se numa lástima de tempo

os minutos por si parassem

nem mesmo isso adiantaria

pois sem que ao menos percebesse

os segundos logo te trairiam.


Meia-noite e 51 minutos de 15 de outubro de 2011.

Choque

Chamou pro choque

choque é choque

no croque-croque

da batida do seu toque

se não arrepia

o pau come.


Se fácil arrisca

a tua espinha na pista

vira logo isca

dos monstro que come.


Com o cacete no tronco

às 5 da matina

os pano na cara

já nem mais desatina.


Agora é só pagar a fortuna

e fingir que não importuna

que logo se mancomuna

com os fardado tribuna.


Meia-noite e 44 minutos de 9 de novembro de 2011.

Carnaval

Carnaval, a festa do povo brasileiro! Um show de cores, homens e mulheres felizes por inteiro. Esquecem-se por dias do sofrimento rotineiro e em seus rostos vêem-se só sorrisos; em seus corpos o suor voluntário escorre; sobre o corpo tão esculpido de mulatas, pretas e branquelas sambando na avenida; em seus olhos o brilho da alegria completa. Nas gargantas dos cantores gritos graves entoam a harmonia da festa, e o timbre da bateria toca todo o corpo, dos pés à cabeça. Ninguém perde, todos ganham (e ainda mais os diretores).

Longe dos holofotes que iluminam o imaginário, nos becos escuros é que a vida segue num ritmo ainda mais frenético, típico carnavalesco. Nas veias correm o entorpecer das misturas alucinantes que guiam os corpos (e as mentes) de muitos foliões. O sexo livre é público, por vezes privado, também faz parte da festa (e se faz!).

Depois que tudo passa, a vida volta ao normal, volta ao sofrer. Felizes aqueles que vivem num eterno carnaval!


4 horas e 47 minutos de 8 de março de 2011.

Montanha de piche

Montanha de piche no terreno baldio

ao lado da favela onde as ruas são de terra

ali correm papéis pelas mãos

e o trocado paga fiado o PF.


Imensidão negra que sobe aos céus

impedindo o voar das pipas

os pés sujos se excitam

quando chega o freguês.


Choram as mães e as nuvens

fazem escorrer nos barracos o caldo preto

deixam marcas irreversíveis.


E quando chegam os caminhões truculentos

levam pra longe o carbono cinzento

ali o asfalto não chega.


18 horas e 3 minutos de 22 de outubro de 2011.

Medieval

Caldo quente da cana

no lombo corrido

observa e estranha

o machado doído


Camponês antiquado

maltratado servil

padré José Geraldo

co'água benta te ungiu


de heresia e apogeu

na Lisboa de outrora

reina o reino de Deus


nas entranhas da fé

que corre nas veias

do povo ralé.


6 de outubro de 2011.