domingo, 29 de dezembro de 2013

São Paulo

Sobe a Rebouças

por debaixo da bolsa

Cruza a Faria Lima

com nariz de farinha de Lima

Atravessa a Avenida da Brasil

como tiro de fuzil

Se passou na Henrique Schaumann

abriu a carteira e deixou a alma

Tatuzinho imponente

se tornou meu oponente

esquecido na fumaça

da inspeção veicular

Olha bem meu amigo

ao chegar lá na Paulista

escorre sangue na pista

E na Santa Consolação

abriu as pernas no colchão

tudo é pura desilusão

Percorrido, carcomido

mal comido entre gemidos

São Paulão do Seu Paulão

já não existe mais

agora é a vez do rapaz

Tintura nas paredes

e nos bolsões tempero verde

nada é mais quebradiço

que a vida neste inferno maldito

doce, amargo, estranho, nocivo

Fecho minha boca

e não digo mais nada!


19 de setembro de 2013.

No Mirante de Santana

No Mirante de Santana

de cima para baixo

da boca às entranhas

me encontro desverberado.


Vejo os prédios mais altos

sob o sol que atordoa

arrancando meu próprio calço

me desmancho igual broa.


Pão e pedra no prato

do garoto alucinado

e quiçá desmantelado.


Respira fundo e engole

deita e rola

sobre o peso das costas.


Meio-dia e poucos de 3 de agosto de 2013.

Depressão

A minha depressão eu curo com homeopatia alcoólica.


11 horas e 41 minutos de 3 de dezembro de 2013.

Sozinho

E eu que pensava que a solidão era a pior. Que nada. Pior que a solidão é estar sozinho no escuro.

A noite caiu e a luz foi embora. Agora uma chama incandescente ilumina minha vida. A parafina que escorre é a mesma que corre em minhas veias. O olhar fixo naquele pequeno ponto de luz me entorpece. O vento incessante que tenta a todo momento tirá-lo de mim, não o consegue. É esta brisa leve que refresca meus pensamentos.

Aquela brasa singela adentra num’alma tão pura e os finíssimos feixes de luz seguem me atingindo. Lá pra fora da janela uma falação, e o resto tudo claro. Aqui dentro só as sombras do pavio quente. Ainda se estivesse no meio do mato estaria feliz, mas uma noite escura numa cidade comedora de cabeças de homem...

Só me resta esperar que a vela apague sozinha, e que um novo dia surja para iluminar de novo a minha vida.


19 horas e 48 minutos de 22 de fevereiro de 2011.

Mãe pro pai

Não atrapalha que o rapaz trabalha.


8 de agosto de 2013.

Diálogo

Tio Herculano, quando você era criança você gostava de carros?

Não, meu caro sobrinho, gostava de pássaros.

Então você gostava de caçar passarinhos?

Não.


E aí Herculano, que tal uma cerveja?

Obrigado, prefiro um conhaque.


Ô Lan, volta pra cama, volta...

Calma aí amor, só mais alguns minutinhos.


Herculano, quando você consegue me entregar aquele trabalho?

Ã... no final da tarde.


13 horas e 36 minutos de 22 de julho de 2013.

Volta pra casa

— Chip da TIM é cinco reais! Já vem com crédito e bônus!

— Chip da Oi é quatro reais!


17 horas de 21 de junho de 2013.

Clarinete que clareia‏

Encontrei meu canto e encanto

à base de cocaína em base

encontro de um velho coito

craqueando a própria a crase

fumegando o ímpeto fugaz

claretinando o que é claro, de dia e de noite

expurgando esporos do espólio

chamei o teu nome na hora

gangrenei a perna já mal irrigada

passei vaselina e cola

libelo da libélula azul

corrente de elétrons que eletrocutam minh’alma

opções capciosas as minhas

ruazinha na virada, todo mundo já sabe

deitei e rolei na bosta do gato

deixei o marceneiro incinerar a marcenaria

usar o próprio sangue pra fazer chouriço

o japonês que me olhava com seu olhar irrisório

película d’um pinto de Alfenas

embrulha meu estômago

mas embrulha mesmo, leva contigo

não deixe o Felipe me ver

nem a Cinderela me seduzir

com teus encantos doces e tua boca molhada

quarenta e cinco graus em cima da cinta da privada

apertei até o fim, mas não entupi o nariz

da lata de Guaraná Antárctica saem gases corrosivos

efeitos massivos, massacre de amigo

corrente aduaneira que não deixa meu barco atracar

me passa por fax, sabe-se lá pra onde

mas me manda embora

ainda nem comecei e não aguento a demora...


13 horas e 53 minutos de 30 de julho de 2013.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Missão em possível

Brunei mandei catar

Bórneo mandei ao Qatar

Estúpido cuspido

Insano real, los ojos

Destruído, pô

Calçada jeans

Substrato solar

McDonald's noturnos

Ensanguentado o óleo Paixão

Co'cacau faço brow

Cantores tuberculosos

Magros negros semi-raivosos

Supernight da Light

Cagada de tênias

E tênis descascados

Rolando talco calcificado

Que as garrafas estão vazias

Sabia o premonitório

Palcos sem pisos

Plástico queimado

Indespedida pedida

de tempos adolescentes

Deixe queimar a queda

Edifique a paineira

Plante tijolos e molhos

Quem sabe se nasce?

O amanhã ao outro

pertence

Sem teus pertences

Apetece o nojo simulado

O sublime céu nublado

Toxicou, toxicou

Quebrou corações e carótidas

Não sou vaso ruim

Pais olham seus filhos

mas estranho não olha tua vida

Correndo, esperando

Perdido em Kosovo

Nevoeiro madrugueiro

Bolo de nozes e nós

Enrolado no papel de cigarro

Excedido o acendido

Brasa d'algas derretidas

Sonoros milionários

não são pajés

S'espera a maré

Sonhe ex-sonhador

Não fale para mim

a causa da tua coceira

Mas coça

Cansaço sem calças

Bolhas de ermitão

Põe pra carregar o dia

Não deixo faltar

só comida

Tecnologia não adianta

Preguiça me raspa a garganta

Eletrônico o espírito não é

Pus o bebê a engatinhar

e o gato no alto do muro

Não lavarei a roupa suja

mesmo nos dias escuros

Levarei o caixão

para fazer valer o pão

Deixa eu correr atrás

senão vou ficar pra trás


Uma hora e 44 minutos de 22 de janeiro de 2013.

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Sinuca de bico

São três anos de luta

três ano de labuta

só agora descobri a cicuta

sorte minha que ninguém escuta

mil e noventa e cinco dias

mais um dia bissexto

fechando a cara para todos

esperando a chamadeira

de mamadeira nas tetas dela

se dos outros não espero

era melhor ser cego

ligeirice matuta

destrinchada na cuca

fosse'm tempos de puta

mas não corre mais o corredor

altruísta em si mesmo

só não entra em desespero...


Noite de 14 de março de 2013.

Desejo

Degusta-me ou devora-me.

¡Me gusta los dos!


20 horas e 51 minutos de 28 de abril de 2013.

Bambu-de-tolo

Não me escalpele

quantas devidas

não me martele

bem na ferida

você me repele

amarga fatiga

em te percorrer...


Não me retorne

as ligações

quero que entorne

com emoções

que faça embrulho

de piedade

só pra me ver...


Mas desse jeito

eu já não sei mais

o que é que devia

aonde podia

agora afastado

de tua vontade

em meu desprazer...


Você conjugou a minha vida

e agora eu só sei ser tua cria

não me devoras como eu quero

e me demora quando espero

e eu tão sincero

perdido aos caprichos do teu desamor...


Pôr-do-sol de 16 de maio de 2013.

Água com gás

Se ela toma água com gás... decerto que não chupa.


20 horas e 50 minutos de 14 de maio de 2013.

Monólogo do Amanhecer

Se tem maconha quero sexo

se tem sexo eu quero maconha

se não tem sexo eu quero cocaína

se tem cocaína eu perco a vergonha

se eu perco a vergonha, perco também a narina

talvez seja essa minha sina.


9 horas e 26 minutos de 24 de agosto de 2011.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Phoenix Marie

E não é que ela voltou?


A fênix Phoenix Marie

pra revelar ao pseudo-veterano o espectro aberto

ensinar como se toca o esôfago exógeno

noites frias e empoeiradas em cima de um papelão

rebolando os super quadris na cabeça do cabeçudo

e eu que pensei que teria morrido

e nunca mais a veria

e agora entrelaçados como ratos

com sujeira do crime ao lado

só que nos encontramos em silêncio

barulheira só na boate lá fora

respingos dum creme de outrora

de tempos de roupagem nova

de vinhos, rum e coca-cola

expropriaram as famílias pobres e nobres

e já não precisamos nos esconder atrás das obras

teu suor corrosivo neutraliza a saliva ácida

benzocaína na genitália

e mais uma noite mal dormida

mil garrafas espalhadas pelo chão

fumaceira da morte

gozos e gozos no rosto, no bojo e no estojo

vampira da minha sucção

edema do enema

toca do tatu é com você mesmo

fosse faceira a face, mas se esconde

resiste até o meu bombardeio Pearl Harbor

como coelhinha encurralada

clamando a voltarmos ao passado

num tempo em que tudo era mágico

emoções de uma primeira vez

rasgada a cabeça pelo médico errado

após aneurismas, derrames e infartes

orifício de ouro estilhaçado

aberto e arrombado

continuamos novamente a nossa barbeiragem

mesmo estando definitivamente esclerosados.


Meia-noite e 17 minutos de 20 de julho de 2013.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Os três loucos

São três loucos

dois sentados, um em pé

os sentados conversam

o em pé rebola

um mastiga a fita

a outra enxerga margaridas

barrigão avantajado

escondido pelo breguíssimo casaco

o manco pergunta a estação e a hora

de estação em estação

e a louca camaleão

enxerga quatro gordos e um colchão.


Depois de meia hora de muita sabedoria

sabem mais do que os outros que fingem alegria

desce um no Paraíso, outro encontra Mariana

e a última louquinha descansa embaixo de uma árvore

essa é a vida dos que tem pouca sanidade

e muita barriga.


Meio-dia e 54 minutos de 11 de junho de 2013.

Repouso na tapera

Destes morros nem um pouco uivantes

descanso minha cabeça e dorso

recomendo osso morto pro almoço

escondo o rosto no momento do coito

estúpido sincero, nunca bestial

anjo bom e anjo mal

umideza e o sol andam juntos

e o frio é sempre relativo

todos juntos na mesma condição

apesar dos olhos esbugalhados sobre o pidão

pança cheia é certeza

felicidade, decerto a incerteza

bananal sem bananas

e beijo sem gosto

pois a tapera está lá e sempre estará

passe Cristo, passe morto

passem gentes, passem vidas

e os muros esverdeados fazem sombra

deita e rola e chora e engole

a seco o que podia molhar

roe o último osso antes de ir embora

sai dando esmolas, acabaram-se as drogas

pinos e caprinos estarão te esperando

para sempre lembrar

daquele velho epíteto de alegria.


15 horas e 5 minutos de 28 de abril de 2013.

Meteorologia

Eu sempre disse que era melhor confiar no pajé...


22 de julho de 2013.

Interioridades/Exterioridades

Uma pegada ecológica

previsível ou quase imóvel

no porvir do relógio biológico

erupciona, mas não alucinógeno.


Desdenhoso encontro

com cheiro de coito

aquele velho, e velho, encosto

persiste em rasgar meu rosto.


Déspota da desilusão

tinhoso gosto do colchão

esclarecido por entre tapas

foi por ti que perdi meu pulmão.


Hora de trancar os olhos

d'esquecer os galhos

comprometido com a prontidão

escravagismo voluntário.


Quem sabe?


23 horas e 9 minutos de 2 de abril de 2013.

Metrópole

Na metrópole caminhos errados não faltam.


3 de agosto de 2013.

Tentação

Perna cabeluda

mal gosto nos calçados

cabelos mal pintados

e rosto de cansaço...

Mas se entregasse em meus braços

te faria rainha do meu falo

dona dos meus afagos

minha saliva em tua genitália

carinho conspícuo e diário.


21 horas e 57 minutos de 1º de abril de 2013.

sábado, 7 de setembro de 2013

O Filme de Estrelas

Schumpeter não compete

confete não confere ao bofete

boate não abre a louça

e lesma de chão não abre a boca

cansado deste assado engasgômetro

não mete em mim o que não mete na nonna

cala a bolsa do arcabouço

equilibra a tigela na banguela

desce a serra na pinguela

abre as pernas

e não deixa os filhos verem novela.


Desliga o termômetro

que o degelo congela a barriga

manda pra dentro carne fria

deixa tocar o celular

até acabar os ouvidos

esquenta logo os miúdos

mastiga o feijão graúdo

e deixa de conversadeira.


19 horas e 32 minutos de 10 de fevereiro de 2013.

Por onde eu ando!?

Como se fosse fácil assim... os mesmos lugares, as mesmas telhas e os mesmos pés molhados. Neblina matinal que respirei era poeira doce; o tabaco mastigado. Agora o governador não me deixa nem tragar uma fumacinha limpa naquele velho canto pombalino... não me deixa esfumaçar minhas tristezas. E eu já cansado desta ininterruptamente vida... até os passarinhos se esconderam, parece... Nem mesmo as belas crianças pedindo misérias no farol me alegram.

Deixa escurecer os olhos; deixa fechar a veia. Quando acordar meus braços já estarão acoplados ao maquinário, trabalhando, trabalhando, trabalhando... Que pena! O corpo estava lá, mas a alma já se foi há muito...


Meio-dia e 12 minutos de 17 de julho de 2012.

O Trouxa

O trouxa é aquele que corre atrás da mesmice

caga em cima dos pés

e enche seu dia de cretinice

esquece de sair da redoma

deságua um cano de esgoto

na própria boca.


Iludido por qualquer conversar

acredita na mentira sincera

sabendo que atrás do pano da Pérsia

se escondem agulhas de feras

mesmo assim limpa o chão e diz sorrindo: “bom dia”.


Mas de algo vale a sua existência

decerto que não está por certo

mas pregou com martelo o dedo

numa estaca dura de rachar

agora dá murro nas portas

pra ver se alguém desencosta

numa carta de magia certeira

deita na esteira da dor

escolhe o impossível

mas não expurga do peito o amor.


Buscou um caminho difícil

sai dessa em que entrou

chora sangue, se dopa

faz de conta que voltou

ou vai logo se mexendo

ou de trouxa vão sair dizendo.


Alguma hora aí, de algum dia aí, do ano de 2012.

Aquela cintura

Ainda estou estarrecido

por aquela cintura!


Por aqueles seios

esculpidos dum pingo d'água

'quela figura infantil

e eu na minha pedofilia desvairada.


Por um instante te fixei

na minha mente e coração

menos tempo que'um trago

daqueles.


Seguirei aquela cintura

em minha ingênua e pura

emoção.


Perseguirei teus passos

pelas terras d'Amazônia

ou do Acre, de São Paulo

ou do Brasil

no covil virtual te encontrarei

e em realidade farei

meu desejo de imaginação

desejoso de tua cintura e teus seios

neles encontrarei meu perdão.


21 horas e 53 minutos de 1º de abril de 2013.

Poesia sem título oitava

Xilambuca daqui, xilambuca de lá

mas lá dentro da jaula interna

dentro da velha janela externa

o olhar repreendido pela júbila cisterna

se escondendo em verdadeira trincheira de guerra

cortados os eruditos tocos de perna

pela nostálgica motosserra

após muitos fogos-de-artifício coagulantes

comidas e bebidas delirantes

exposto o pescoço pelo teto solar extravagante

(e não pelo teto torto)

a mil por hora escafedeu-se

para bem longe daquilo que é morto

rodopiando sobre nuvens embriagantes

entre taças de champanhe e alucinógenos variantes

subiu aos céus o bom Jesus

dono do seu próprio nariz

do peito, das pernas e do seu próprio cu!


18 horas e 44 minutos de 3 de janeiro de 2013.

domingo, 11 de agosto de 2013

Bruta predião

Um dia olhei pela janela

e vi que fizeram um bruta predião

bem no meio da minha rua

ofuscando os olhos dela

e Eleonora era tão bela

violentada e seminua

agora não vale um tostão

apesar dos dólares do patrão.


No meio-fio vejo roedores

asfalto amarelo sangue

ondas radiofônicas abaixo do chão

motos nas antenas

mil enxames de abelhas

em direção da cabeça do sacristão.


Aquela porta de alumínio que brilha

já não mora ninguém, a senhora morreu

no jardim de trás conversas

só até a meia-noite

o casal que briga com gosto

e os imigrantes trabalhando sem nojo.


Nada fiz, nada pude

para rever a situação

as paredes do meu quarto bem pintadas

e a sombra do colosso engasgada

não é meu o que nunca foi meu

põe as costas a repousar

clamarei eternamente o teu perdão.


19 horas e 26 minutos de 21 de maio de 2013.

O ménage

Relação a dois é a dois. Relação a três é a um.


19 horas e 53 minutos de 3 de junho de 2013.

Positivo

Acusado, escusado, recusado

nominativo, acusativo, recreativo

arbitrário, voluntário, mobiliário

vicioso, viscoso, luminoso

desmedida, sacudida, desmentida.

Primeiro quatro, depois duas e por último três

pernas

e pronto, assim a vida passou.


20 horas e 33 minutos de 20 de setembro de 2011.

Comerciante (nº 2)

Nunca vi comerciante

atender com hora marcada

ou entrega logo o doce

ou me diz que não tem carga.


Onze e meia da manhã de 23 de julho de 2013.

Duas moçoilas conversando no trem

“Pobre sim, preto não!”


21 de junho de 2013.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Sinceridade na beira da estrada

Minha sinceridade me priva do convívio social

mostro terminantemente meu humanismo

para seres irracionais movidos por instintos animais

minha clareza nas idéias assusta o bom ouvinte

que desconfia daquele do qual não deveria desconfiar

um sorriso verdadeiro não é o bastante

falta fantasia no meu mundo, minha fala impregnada de realidade

se preferem o despojo falso e irreal

o que posso fazer?

Absolutamente, mantenho-me romântico e realista até o final.


14 horas e 37 minutos de 7 de novembro de 2012.

O amor do amanhã

Neste dia do amanhã

encontrarei amor profundo

arranco da terra minhas raízes

pra emergir o novo dia

profundeza imaginativa

embebida nos doces encontros

revelando a grandeza

desta alma pura e plena.


Atordoa com sua boca macia de grappa

emudece ao primeiro olhar

entorpece a mente e deságua

um rio de doçuras encantadas

inebria com os teus gestos

o dia parece parar.


Ilumina meu horizonte

põe sol na minha alvorada

enche o céu de estrelas

com teu passar perfumado

brilha como a lua

e o crepúsculo dourado

sutileza fatal

encantadora e inexplicável.


Me encontra outra vez

e outras e outras

não sai daqui, lindo amor

pois do perfume deste flor especial

não vou parar de respirar.


Meio dia e 53 minutos de 20 de outubro de 2012.

Talheres

Por que comprar um jogo novo de talheres?

Garfos foram feitos para durar uma vida inteira

para servir crianças e anciãos

para boca de desejosos e indesejáveis

facas até podem ser homicidas, mas garfos não

são feitos para alimentar

para não sujarmos as mãos

copos quebram, garfos não

quero comer com ele aos 12, aos 20 e aos 64

e lembrar de cada gosto, doce ou amargo

de cada momento, de cada mesa posta

de cada companhia...


Posso até trocar meus pratos, minha comida

mas meu garfo vai comigo para o caixão.


22 horas e 54 minutos de 13 de novembro de 2012.

Treze de Junho

O dia em que a classe média tomou palmadinha no bumbum.


18 de junho de 2013.

Batalha mental

Esferas de realidade invisível

domadas pelo grão abismo

montadas em celas de castigo

das quais nenhum mortal sai vivo.


Enroladas em mantos de sangue

e'esfumaçadas as vias aéreas superiores

dum tronco nu e tosco

jorra intempéries como cano de esgoto.


Cabalística reunião com centauro

d'onde Jesus Cristo se levantou

com seu narguilé de trompas

deu dois pulos e voou.


Já pra lá do terceiro dia

dante azia e engasgos

rebateu com novo ritmo

meia dúzia de espasmos.


Meia-noite de cinquenta e seis de 7 de abril de 2013.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

O Desgosto

Relembrando os montes términos

das cascatas redobrantes

remoendo as quedas d'ontem

que desaguam em meu horizonte

escondo o rosto torto

e furo o cano de esgoto

pois este pé d'água que já foi belo

hoje é perfeitamente tosco.


Se de uma chaminé de tronco

eu encontro meu almoço

peço ao sentimento Gosto

que me deixe ser um louco

pra comer de tudo um pouco

com sulfato bem ferroso

posto o imposto no prato

já posso até levar sopapos

que estarei em imerso gozo.


16 horas e 25 minutos de 11 de junho de 2012.

Melancolia

Pessoas felizes não deixam marcas. A felicidade definitivamente não inspira.


14 horas e 36 minutos de 21 de dezembro de 2012.

Poesia sem título décima

Nunca comprei um livro

pois não tenho esse dinheiro

mas já li o mundo inteiro

sem sair do meu celeiro.


Nem li Marx, nem Descartes

e nem Locke e nem Kant

este tipo de encanto

facilmente eu descarto.


Leio a vida dia-a-dia

em seus mínimos detalhes

nunca fui a livraria

eu prefiro o meu quarto.


Cada página de xerox

esconde a face do autor

limpa todo o seu bolso

com meu chato e grosso amor.


Se você quer ser um também

queime os livros da estante

e procure a cada instante

vire a página e viva a vida

por inteiro.


11 horas e 25 minutos de 19 de junho de 2012.

terça-feira, 18 de junho de 2013

O dia em que São Paulo parou?

Preferi a janta ao invés do protesto

não porque seja indigesto

pois carrego comigo fuzis-manifestos

mas porque mesmo o estômago pede.


17 de junho de 2013.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

370

Doçura, fina voz

madame da minha mocidade

desamarrou todos os nós

e me pôs pra dentro da cidade.


Não deixou-me iludir

desde pequeno me fez sorrir

me levou para sua viagem

de infinitas paisagens.


Teu vestido belíssimo, Eleonora

arrancado a força e asfixia

não tirou tua beleza e primazia

e assim no teu cais pus minha âncora.


Por um maremoto fui arrastado

para longe das tuas praias

agora é no choro sussurrado

que encontro as minhas vaias.


De soberba nunca vivemos

redenção para os pecados nossos

pelos momentos que nos entretemos

mas não volte a buscar os destroços.


Adeus, deusa-mãe

repouse sob a nostalgia

arco-íris e ferida eterna.


21 de janeiro de 2013.

Da boca ao pulmão, do pulmão à boca

É melhor mesmo não saber aonde fica a boca...


Dez e meia da noite de 3 de junho de 2013.

Missoshiro

Do missoshiro

sobrou só calmante de brilho

respingo dum olho d'água

enterrado o nariz amaralino

restinga de estribilho

no mangue do asfalto rachado

coração apertado de raspa do lado

calmaria decalcada de Skol e cigarros

doce queijo eras tu

comendo carne de tatu

respaldada pelo cartão e salário

meu nível econômico desdentado

impossibilitou o relutante sufrágio

tão sonhado no recalque dela

que por entre pernas terá sonhado

diminuto é meu estágio atrasado

para alcançar a liberdade da alma

meu petilho de tomate doce

gramínea do meu mercado d'água

reluta a vender o papo e trocar por sopapo

meu agasalho em tu

e estará deitado...


21 horas e 18 minutos de 9 de maio de 2013.

sábado, 1 de junho de 2013

Olho d'água

Psoríase não é comigo

nem tampouco doença pulmonar

duma gota dum olho d'água

calçada rachada

deságua o meu mar

nas ruas do teu lar.


Num casco velho na parede

chorume verde

papéis de bala pelo chão

o lixo na contramão

a mão segurando o pão

e sapatos do perdão.


Nem o ralo, nem a válvula

que segura aquela água

deságuam no meu peito

tantas dores desta alma

já no céu bem nublado

chuva, riscos, desculpas

nada.


Um cigarro, um cigarrinho

tudo poderia ser assim

tão mais do jeito que é.


As cadeiras só rolam

e a água sanitária

corre em minhas veias

um pano de chão rasgado

eu nem queria mesmo.


Uma brasa no meio do nada

eu bem que queria

estar por entre estas fatias

dum galho, dum macaco, dum rato

dum jenipapo

tumor, inhame, dor.


Fumaça arrastada

não me leva nada

esqueceste ainda como era

como foi e o que será

e por fim

na deságua do meu mar

encontrarei meu clímax.


(latidos)


Meia-noite de 1º de junho de 2013.

sábado, 11 de maio de 2013

Na nova Estação da Luz

Se entrecruzam as almas

já no meio do saguão

bem não sei como não caem

pois tropeço é pisoteio certo

To-los escrevo e subscrevo

tão perdidos em desembraio

qu'essas coisas mais banais

não ensejam pergunteios

Transparentes estas auras

que é de fácil esmagamento

fosse gordo ou fosse magro

o porteiro tem seu tempo

A senhorita eletrônica

é bonita, eu imagino

tua extensa e doce voz

determina os teus ritmos

Faça sol ou faça chuva

está lá a grande topeira

correndo por entre húmus

que já fede o ano inteiro.


11 horas e 57 minutos de 28 de março de 2012.

Comerciante

E ele disse: “Já foi...”


Por volta das 13 horas de 20 de março de 2013.

O troco devolvido

Paguei com nota de dez

o que não valia nem um real

o caixa sabichão

me devolveu nove trocados

visto o impasse na mão

digníssima figura, meu senhor

desenxabido o sabichão

não pestanejei:

devolvi o troco e

dei-lhe um beijo de gratidão!


Meia-noite e vinte de 17 de outubro de 2012.

sábado, 13 de abril de 2013

Braços de uns, pernas de outros

Fizeram o trabalhador subir no alto do guindaste

pra trocar o logotipo, o letreiro, a fachada

quase um tipo (estranho) lá no alto dos céus

a polir o corroído, aquele banco amarelo

que todo mundo conhece e o credor não esquece

de brasilidade já não tem mais nada

o suor escorre enquanto o outro puxa a escada

para ter o ganha-pão tem que esculpir pedra-sabão,

lavar o pano sujo, e não do menor infrator

e enquanto lá embaixo tiram o arroz com feijão

da máquina eletrônica movida à comissão

respinga sangue da testa e cola bem o adesivo

já tá avisado, sem aviso, e nem prévio ou anterior

que é fim de mês eu já subia, só não sabia da inflação

ainda bem que tem as nuvens, me consolam, eu sei

desvanece minha alma e baixa o nível da escada

logo logo chego em casa, a mulher me tem amor.


Meio-dia e trinta de 13 de abril de 2013.

Praieiro Urbano

Quem vai fazer agora a rima

quem é que desanima

quem é que desatina

com as minas?

Quem é que põe o jogo

quem é que está querendo

quem é que está mamando

quem é que está bebendo?

Quem pode ser aquele do lado

de cabelo arrepiado?

Segue bom e segue justo em seu caminho

olha pra trás, olha pra frente

faz seu destino

Não pode ser mais assim

eu só queria um pouco mais de alegria

eu só posso viver cantando, cantarolando

e dizendo que sou bom

nem que sou anjo

vou cantando e levando

um gole para o santo

garrafas estão rolando

Eu quero ver quem é que vai aguentar

o pique da cana tem que virar

a coisa mexe dentro de você

e quando você percebe

ela nem vai perceber

e se você quiser

um pouco mais de atenção

me dê aquilo que eu quero

então eu só queria um gole a mais

uma saideira pra...

tanto faz

Eu não queria saber

nem dizer aonde vou

nem quem sou

aonde quero e pra onde vou

eu não quero dizer

não posso, não devo, não devia

mas eu quero agora acabar com essa agonia

e num mais gole de alegria

trazer pra dentro de mim tudo aquilo que eu queria

toda aquela harmonia

que me deixa bem


23 horas e 45 minutos de 24 de novembro de 2011.

The Last Night

Don't stay here anymore

Mesmo nesta magical night

Embebida a seco

I will live with you

I don't want to look the sky

Esta fumaça aumenta a pressão

E o vento de mosquitos me pica

The soul is still here

'Cause there's nothing to see

Calmaria de desespero

Despedidas aos transeuntes

Se my home não é mais my home

É melhor mesmo esquecer

Coltrane e Armstrong estão aqui

Apesar do quarto quase vazio

I will pray

Din-din-don nos ouvidos não mais

Mama is waiting for me

And I won't cry

Believe, my guy

As trancas se abrirão

O despojo se esvairá

Os perfumes ao lixo

E os barris ao destino

Me faltam poucas linhas

Talvez nunca mais

But I know that God is great

Me reserva um canto de paz

Não minto a mim mesmo

Os franceses também me deixarão

Instead, I will open the door

Encontrarei meu paraíso

Minha história e meus singelos sonhos

Estão longe de acabar

Give me a hug and I will be there forever...


20 horas e 40 minutos de 23 de janeiro de 2013.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Linardo e Uísquine

Entrem em bancos

emersos pelo falso pranto

encurralem a tentativa

gritem “porra” para todo mundo

num telefonema de estranhos

seja dura, Fernanda

pedras, galhos e bugalhos

na cabeça

alucinado pela voz dicotômica

esqueça o bêbado deitado do lado

deixem o baleado na calçada

explodam o sangue pra fora das veias

aconselha, acalma o garoto

treze minutos passados

os efeitos irradiados

abaixa a bola, sim

uma hora a caverna escuta

mas não poderia ser

nem quando o grito é de amor

porque com gritos não se faz

espécime alguma de brilho nos olhos

sentimento apedrejado

numa caixa velha de vidro

repete, garota

antes que exploda a bomba

resgate a multiplicação

destile o álcool do sangue

e junte as toxinas pra fazer sabão

eu disse.


Prefere mesmo o leão?

Tá OK, tá OK!


23 horas e 12 minutos de 18 de janeiro de 2013.

Profecia matineira

Como espinho de alcachofra amarrei minha boca

No céu, nos olhos e no convés

Você fingiu pra mim a tua história

E eu apegado em você me desfiz das três horas

Você jogou poeira em mim

Mas quando você pedir “eu vou”

Te digo, meu amor, que vou

E se você soubesse o quanto eu sou

Não se distrairia mais com o traidor

Fecharia os olhos e esqueceria tudo, tudo


Vai, vem comigo navegar

O meu barco tá atracado pra você pisar


Vai, quero ver que sou

eu te amo, meu amor

não duvide, por favor...


Quase duas da noite de 20 de fevereiro de 2013.

O menino acelerado

O tempo de um banho dum do charmoso rebanho

ao calar da madrugada, na viela um estranho

ratos podres pelo asfalto procurando uma barganha

na cabeça uma estrada e a boca em desengano

salivada a fumaça na recente carapaça

no passar acelerado, olha o céu não acha graça

pelas janelas fechadas, sob luzes apagadas

foi-se embora como tinta que escorre pelo ralo

daqui a pouco ele volta, o menino acelerado.


Uma e poucos da madrugada de 20 de fevereiro de 2013.

Muleta

Não é isso que sou

mas foi isso que fui

e não mesmo pros dois

mas apenas pra um.


Almofada confortável

na beira da estrada

situação estável

pra quem estava arruinada.


Guia entre montanhas

e entre rios

no final uma barganha

e na minha cara cuspiu.


Aprendeu a andar

com os próprios pés

agora insiste em vagar

entre gentes ralés.


Bem erguida

mas sem mais erguidas

dispensou a guia

e segue sua própria vida.


E eu aqui engatinhando...

mas logo fico em pé...


15 horas e 23 minutos de 27 de novembro de 2012.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Plenitude

Se eu te encontrasse, amor

levaria aos céus

alguns fios de cabelo teus

para fazer uma prece

e pedir que ficasse para sempre.



Da água da cachoeira

faria tua comida

e com as pétalas mais raras

me perfumaria para você

logo veria o arco-íris nascendo

de doçura encheria meu dia

posso viver do teu amor

e o mundo esquecer.



Me leva contigo

que Deus deixa.



Meia-noite e cinco minutos de 7 de fevereiro de 2013.

Maloca

Vejamos bem meus amigos

esta retrospectiva

de pisões na terra

e escorregões férteis

enterrando os medos

dormindo mais tarde

uma pedra que cai no lago

e vai para o fundo

entra como saiu

acordando mais cedo

de entretenimento as paredes do quarto

não tem nada

nem de limpeza

o sangue pisado.



A ferida aberta cutucada

mal cicatrizada

amargurada pelo armário aberto

e vazio de saciedade

com o mundo empolgante de fora

nada tenho aprendido

mas não mesmo arrependido

pelo chão esbranquiçado

ficarão os pêlos e cabelos

nada mais restará

nem o tchu-bá-tchu-bá

tão cedo não tocará

uma ilusão em sessenta meses

e na cabeça uma paulada

e descansará...



21 de janeiro de 2013.

Uma e meia

Já chega

já deu né garoto.



22 de janeiro de 2013.

Poesia sem título nona

Impulso para a realidade

Um verdadeiro ímpeto embaralhado de emoções

Fluxo ilusório constante, nocivo

Curto e intenso



Nada mais que necessidade

Explosão de pensamentos, prazer momentâneo

Ciente de si, dos riscos

Emerso num caldeirão de futilidade



Aproveitara o instante, pois sabia que era único

Sabia que era perfumado, saboroso, táctil

Sensualidade sexual e erótica, domável

que expulsa o sofrimento



Eclode do que era necessário

sabendo o que ainda havia por vir

Insere-se num mundo novo, escuro

sujo, pútrido, violento, funesto...

prazeroso.



Sabia mais, sabia tudo

chegava longe, mais longe que havia chegado

E não chorava, pouco sentia

Sentia o agora, and the time is running fast, man

e não é hora de pensar.



Culminou à tragédia? Podia.

Mas não, segue adiante, mantém-se firme

mais ainda do que era.

E agora já sabia, sabia muito

Decidido despediu-se sutilmente,

com lágrimas mentais, mas partiu.



10 horas e 59 minutos de 27 de março de 2010.

Barganha congelada

Gelo petrificado

mítico misterioso

corrompido em seu ralo

por um pano de gozo

perdido paulatinamente pelo pêlo grosso

dum'ameixa em meio aquoso

ludibriantes brilhos do cristal

no hexágono interior

refletindo sobre o refratário dos olhos

mil perdões de dor

entorpecidamente adormecido

escorrido o suor pelo mato seco

remoído o sangue pro chouriço doce

pagos os impostos para a venda d'alma

e o suborno dos alfandegários do céu (ou do inferno)

estava pronto

lá dentro d'água cristalina

estará enterrada

coberto d'ouro-de-tolo e serpentinas

por vinte cinco mil pratas foi comprada!



21 horas e 25 minutos de 25 de novembro de 2012.

Amor

Em primeiro lugar o estômago, depois o coração.



19 horas e 49 minutos de 12 de novembro de 2012.