sábado, 27 de dezembro de 2014

Deu dois?

Deu dois? Não sei.


Trinta e sete graus lá fora.

Brincadeira de menino ao som do ruído gospel

que com quarenta decibéis bate no quarto, na sala e na cozinha.


Incrédulo, mesmo.

São só três cômodos.


Pois aqui dentro de mim, no fígado, no rim direito e no cremaster

a coisa está bem fria.


Cérebro e coração são a mesma coisa.

A tesoura cortou meu dedo, que sangra.

Só ébrio vivo, sobrevivo.

A água não vence, repito o que disse o oncologista.


A meia do pé esquerdo furada me dói o dedo.

Lisura, ligeireza e faceirice me passam longe.

Rebanho só dos lobinhos negros...

Quem me dera!?


Uarrárrá, explode a risada no meio da sala de estar.

Ou está ou não está, é matéria.


Bactéria? Eu, hein!


Andropausa na juventude velha.

Calçada cheia de mato, fiquei com preguiça de limpar.


No Céu, Ele me espera.

Pois a Ele temo, mas nem tanto.

Mas que Nele acredito, sou prova viva.


Se desaprovava tua atitude impensada, repenso mais de mil vezes o que eu te disse.

Ah, me desculpa vai, nunca fui tão mau assim.

Eu sei que a fumaça do meu cigarro te embrulha o estômago

e o cheiro fétido da minha boca, apesar dos doze goles diários de Listerine®, te embrulha o estômago

e que os meus dizeres rasteiros, exatos na inexatidão, também te causam náusea.

Recomendo que procure um gastroenterologista.


Plantei um manjericão e ele cresce.

Cai o helicóptero do dono da cachaçaria e eu nem ligo.

Mas se nem pra você eu ligo, você sabe

eu só ligo pra Vivo quando preciso e rapidinho eu desligo.


Da Bahia ao Rio de Janeiro eu andei a pé pelo canteiro.

Bons tempos de mocidade, bons tempos de devaneios.

Após a cauterização do meu bronquíolo esquerdo, nunca mais fui o mesmo.

Já era tempo de casar, ter filhos, assassinar o amante da minha mulher

alguma coisa assim pra fugir da rotina.


Pra cadeia eu nunca fui e quando meu pai era vivo nunca o desonrei.

De usuário de drogas ninguém me chama, nem de burro.


É, meu caro Roberto

ou ouve o pastor ou continua na linha torta.

E eu que gostava tanto de torta de maçã hoje só como cebolas

descasco da branca e da roxa e enfio logo na boca.


Me perdoe, mesmo, se fui indelicado.


19 horas e 12 minutos de 27 de dezembro e 2014.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Caixas acústicas pegando fogo (e o som continua)

Liguei minhas caixas acústicas e pus no máximo volume

enquanto a chuva caia lá fora, eu me deliciava com smooth jazz e blues

ainda não havia anoitecido e eu senti um cheiro de queimado

quando desci as escadas as caixas acústicas pegavam fogo enquanto a música tocava

logo pensei em apagar o fogo e corri para a torneira

mas esqueci que a Sabesp só funciona do meio-dia às seis a partir de agora

(apesar dos altos preços, dos juros e da mora)

foi então que decidi voltar à minha atividade corriqueira

deixei o fogo pegando, o burburinho do combustão dava algo de especial à melodia

quando a última nota tocou o chão já estava em cinzas

a chuva que engrossava deu início àquela velha goteira

e quando voltei lá embaixo estava tudo inundado

o fogo apertou stop bem naquela faixa que eu gostava e a água levou a sujeira embora

percebi de novo que estava sozinho, cansei da pirotecnia e voltei para a minha agonia.


25 de novembro de 2014.

Otorrinolaringologista

Contratei um otorrino pra cuidar do meu nariz

depois ele me contratou pra cuidar do nariz dele

meu nariz logo se curou e o dele se empinou

(ainda mais)

ele me curou o corneto e eu meti na sua boca uma corneta

meu nariz nem o comerciante conhece direito

o dele, pelo tamanho, todo mundo conhece

uma troca justa essa, eu penso

o meu nariz cada vez mais cavocado e o dele cada vez mais esticado

se ele me cuida da enxugação, eu cuido da sua dilatação

trato feito e não se fala mais nisso.


20 horas e 35 minutos de 11 de setembro de 2014.

Noss’excitação

Encostam’os cotovelos e dali saiu faísca

logo fomos para pista pra ver se’um dos dois se arrisca

na nossa contravenção qu’é de uma ousadia

paramos na estação do metrô Vila Matilde

de lá muitos beijos demos e depois fomos pra cama

e no seu apartamento no mesmo momento gozamos

depois das nossas salivas, vinho tinto bebemos

que manchou as nossas bocas de cor-de-rosa’e vermelho

beijei o teu corpo inteiro e ela me lambeu todo

noss’excitação surpresa nos rendeu uns dez orgasmos

cansados e boquiabertos, vimos o sol na alvorada

dess’encontro inesperado só sobraram as lembranças

eu me levantei da cama e logo abri a porta

ela também não me procurou e dali se foi embora

sonhamos um com o outro, mas nunca mais nos encontramos

foi mais do que um sonho vívido, foi um amor eterno momentâneo.


15 de outubro de 2014.

Nunca vi

Nunca vi, isso aqui me dá fome e me dá sono!


2º semestre de 2013.

Não posso mais

Não posso mais

nem de um lado nem de outro

do lado direito uma neoplasia no seio maxilar inferior

do lado esquerdo uma carótida entupida...


Caralho de vida!


13 horas e 31 minutos de 21 de agosto de 2014.