sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Incêndio nos Campos Elíseos

A fumaça preta subia aos céus

e dali a pouco em todos os cantos da cidade podia ser vista

os carros parados queriam é se livrar do trânsito

não estavam nem aí

os operários da Eletropaulo continuavam trabalhando

e os ônibus correndo como loucos

até no Jaraguá a fumaça desfigurava a paisagem

mas nada disso comovia os transeuntes.


Lá embaixo as famílias desesperadas choravam

as mães gritavam ao imaginar o sangue escorrendo pelas paredes do prédio

os bombeiros sonhadores queriam apagar o vulcão com suas mangueiras

e o piloto quase cego dava jaula aos já enjaulados

nas rádios repórteres sérios

nas ruas observavam e fugiam do tédio

mas quem estava lá em cima rezava.


Que Deus os ajude! Que Deus os ajude!


11 horas e 32 minutos de 22 de dezembro de 2011.

Poesia sobre o incêndio em um prédio abandonado no bairro dos Campos Elíseos, região central da cidade de São Paulo, ocorrido no dia 22/12/2011.

Bandidagem

A casa caiu bandidage

agora é muita treta

gambé enfiado até os zóio

vai fazê visita po capeta

eles enfia no seu cu sem dó

os armamento da tua gangue

injeta na tua veia teu pó

vai fazê escorrê sangue

vão comê teu cérebro até fritá

quebra tuas perna só pra inverná

fazê as almas retorná

pras dívida mortal cobrá

quero vê segurá a onda

porque o bicho vai pegá

playboyzinho do morro agora

chão do esgoto vai limpá

mas se for comportadinho

mesmo atrás das gradinha

depois de levá espancadinha

dá pro esquema comandá.


22 horas e 11 minutos de 13 de novembro de 2011.

Poesia sobre a pacificação de favelas no Rio de Janeiro.

Vadias do Mackenzie

Enquanto papai prepara o caixa dois

e mamãe atende o depressivo

a putinha de M. Officer

exibe sua vulgaridade excessiva.


No ponto de ônibus lotado

a loirinha bem cuidada

mostra seu hematoma sexual

pago a vinho importado.


O chupão no seu pescoço

não intimida a sua amiga

que expõe também a tua marca

e conta sua noite de fadiga.


De uniforme tradicional

à la colegial

junto ao garoto irracional

são mais de 900 reais.


E de presbiteriana

ela já não tem mais nada

mas se quiser levá-la para cama

não esqueça do champanhe

e de uma bela chupada.


1º de dezembro de 2011.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Linha Amarela

Longe das velhas paredes feridas e sujas

o dinheiro público esbanja formosura

contos e contos de réis

correm por entre os trilhos

são quatro vias sem mão

decoradas de ouro bom

controle remoto para o cérebro

do maquinista imaginário esquisitérrimo

lá do alto das cabines

empacotam as mercadorias

por anúncios alucinantes de vitrines

e no projetor diamantina

corrompem cedo as crianças

e lá pro buraco fundo do esgoto

levarão seus corpos inertes

revestidos agora de metal fino.


2 horas e 1 minuto de 15 de novembro de 2011.

Poesia sobre a Linha 4 Amarela do Metrô de São Paulo.

O Tempo

Gregório disse:

“Controlarei o tempo”

dos pés a cabeça

goela a dentro.


Os meus dias são contados

perdidos e incontrolados

vadios desajustados.


Meus sinos dobram ao amanhecer

para acordar todos da cidade

infelizes e incapazes.


Para lembrá-los do labor

pra que se percam em sua dor

em sua infinita vivacidade

infestada de obscuridade.


Mas se numa lástima de tempo

os minutos por si parassem

nem mesmo isso adiantaria

pois sem que ao menos percebesse

os segundos logo te trairiam.


Meia-noite e 51 minutos de 15 de outubro de 2011.

Choque

Chamou pro choque

choque é choque

no croque-croque

da batida do seu toque

se não arrepia

o pau come.


Se fácil arrisca

a tua espinha na pista

vira logo isca

dos monstro que come.


Com o cacete no tronco

às 5 da matina

os pano na cara

já nem mais desatina.


Agora é só pagar a fortuna

e fingir que não importuna

que logo se mancomuna

com os fardado tribuna.


Meia-noite e 44 minutos de 9 de novembro de 2011.

Carnaval

Carnaval, a festa do povo brasileiro! Um show de cores, homens e mulheres felizes por inteiro. Esquecem-se por dias do sofrimento rotineiro e em seus rostos vêem-se só sorrisos; em seus corpos o suor voluntário escorre; sobre o corpo tão esculpido de mulatas, pretas e branquelas sambando na avenida; em seus olhos o brilho da alegria completa. Nas gargantas dos cantores gritos graves entoam a harmonia da festa, e o timbre da bateria toca todo o corpo, dos pés à cabeça. Ninguém perde, todos ganham (e ainda mais os diretores).

Longe dos holofotes que iluminam o imaginário, nos becos escuros é que a vida segue num ritmo ainda mais frenético, típico carnavalesco. Nas veias correm o entorpecer das misturas alucinantes que guiam os corpos (e as mentes) de muitos foliões. O sexo livre é público, por vezes privado, também faz parte da festa (e se faz!).

Depois que tudo passa, a vida volta ao normal, volta ao sofrer. Felizes aqueles que vivem num eterno carnaval!


4 horas e 47 minutos de 8 de março de 2011.

Montanha de piche

Montanha de piche no terreno baldio

ao lado da favela onde as ruas são de terra

ali correm papéis pelas mãos

e o trocado paga fiado o PF.


Imensidão negra que sobe aos céus

impedindo o voar das pipas

os pés sujos se excitam

quando chega o freguês.


Choram as mães e as nuvens

fazem escorrer nos barracos o caldo preto

deixam marcas irreversíveis.


E quando chegam os caminhões truculentos

levam pra longe o carbono cinzento

ali o asfalto não chega.


18 horas e 3 minutos de 22 de outubro de 2011.

Medieval

Caldo quente da cana

no lombo corrido

observa e estranha

o machado doído


Camponês antiquado

maltratado servil

padré José Geraldo

co'água benta te ungiu


de heresia e apogeu

na Lisboa de outrora

reina o reino de Deus


nas entranhas da fé

que corre nas veias

do povo ralé.


6 de outubro de 2011.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Transitando paulistano?

Tu transitas paulista?

Transitando paulistano?

Mete teu amo no espaço que está sobrando.

Arrisca tua vida na pista

por alguns frágeis minutos?

Pensa que teu mundo é diminuto?

Queimando o petróleo denso e caro.

Dás seta para o lado que te invade

só pra não ser covarde.

Põe o tronco grosso e tosco em perigo?

Fingindo não ter amigos?

Parte reto o velocímetro em segundos?

Desafetos num farol com um vagabundo.

Pensas bem no que tu fazes, meu amigo

pois São Paulo não gira em torno do teu umbigo.

Derrubando o motoqueiro pela esquerda

atropelando a pobre criança

lastimando as esperanças

de quem corre com seus pés

assim como Deus o quis.

E se por acaso me vier

fica longe de mim!


19 horas e 8 minutos de 21 de outubro de 2011.

Banco de Dados

O que serão dos bancos de dados quando não couber mais dados?

De que servirão os dados quando os maquinários forem extraviados?

De que valerão as informações quando insurgirem os bolsões?

Que sentido terão os códigos se não houver mais pródigos?

O que farão os programas quando não existir mais grana?

Pra que um valor virtual se o nosso instinto é animal?

Pra que tanta tecnologia se o mundo acabará um dia?

De nada servirá toda esta merda quando em breve voltarmos pras cavernas.


22 horas de 10 de agosto de 2011.

Memórias

Memórias.

São só memórias.

Um tempo que não volta

Histórias pra se lembrar.

Boas, más, são histórias

Abstrações das quais não escapamos

Feixes de elétrons correndo pelo cérebro só pra que elas venham como se fossem reais

Ilusão perfeita

que confirma tudo aquilo que não queremos acreditar

Amores, ó amores

tão longínquos e tão perto

Atrás daquelas janelas com grades fazem o prazer voltar

e o coração bater novamente

Mas o frio da realidade entristece a alma

e despeja sobre aquele corpo potes e potes de gelo

Nem o silêncio, nem a barulheira dos carros lá fora são perceptíveis

É o medo

Toma conta de ti e faz olhar o futuro incerto,

tão incerto

O amanhã é claro, e por certo não será tão glorioso como quero

E o espelho o qual olhava, nada via

Nem mesmo o calor da cama aquecia aquele coração

Qualquer escolha não faria diferença

Era melhor esquecer.

Mas não podia, tentava, mas aquelas nuvens de memórias pairavam sobre sua cabeça

E a fruta mais doce parecia azeda ao seu paladar

E a música mais bela não agradava

Quem sabe um dia poderá se livrar destas memórias malditas

Quem sabe...


19 horas e 7 minutos de 26 de janeiro de 2011.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sangrando

O sangue une

e desune

sangrando torto

sangrando estrume

o olho morto

te mete ao cume

sem teu conforto

não há quem fume

no velho porto

ninguém assume

no chão retorto

o semimorto.


21 horas e 48 minutos de 27 de setembro de 2011.

Preto branco

Sou preto na pele;

e só.


Sou preto na cor,

sou branco no jeito,

sou branco na fala,

sou branco nos trajes,

sou branco no carro.


Meu sangue é preto,

minh'alma é branca.


Minha noiva é branca,

minha carteira é branca.


De preto só a pele;

e só.


15 horas e 6 minutos de 4 de outubro de 2011.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Residencial

Arrancaram os pinheiros

e montaram acampamento

de uniforme cinzento

ergueram primeiro as paredes

de tinta branca

pintaram as lajotas e os tijolos

e com piso amadeirado

revestiram o assoalho.


Só sobraram as araucárias

que a lei não deixou cortarem

e aonde viviam os passarinhos

agora farão os homens seus ninhos

num belo quarto residencial.


10 horas e 37 minutos de 5 de setembro de 2011.

Perdeu Playboy

Aquele cara não parava de falar.

Contava suas viagens para Europa, para África e pela América Latina.

Filho da puta!

Não parava de tagarelar o desgraçado.

E o calor dentro do ônibus esquentava o até o cu de quem estava sentado.

O sangue me subiu à cabeça, mas esperei pra ver se cansava. Não parou.

Não teve jeito, prendi o lazarento no chão e com minha faca de incisão estourei teu peito e ranquei-lhe o coração.

Pulsando em minha mão o coração do desgraçado, mesmo assim tua língua continuava se mexendo.

Cortei-lhe a língua.

E não é que o filho da mãe ainda soltava uns barulhos pela goela, e o sorriso não saia da tua cara.

Que podia fazer, esquartejei o homem todo, em pedacinhos mil. O sangue corria pelo corredor do ônibus, as pessoas se enojavam com aquele cheiro, mas eu me sentia tão bem.

Tranquilo, e agora finalmente em silêncio, joguei os pedacinhos na beira da estrada para que os urubus do cerrado se deliciassem.


13 horas e 20 minutos de 13 de setembro de 2011.

Moléculas que te molestam

Pingos de lágrimas de água salgada

molham os olhos brilhosos holísticos

goles de gotas em galés da vida

sinais da insinuante sina


gritos de guerra nas guelras

dum peixe humano e patético

moléculas que te molestam

atirem os átomos no pátio da escola


laços lentos e bem lidos

vínculos bem veiculados

estórias pouco históricas


setenta e cinco em suma

glória e garra cuspidos

estouros que estalam o estorno.


1º de setembro de 2011.

Preso (ou Estandarte da Morte)

Enquanto todos se divertem, eu aqui enclausurado numa sala de estar, bem embrulhado o estômago, esperando passar a fome de ser quem não sou, de ir aonde não vou, de cheirar o que já se foi e de enxergar o que ainda não foi.

Se a janela da jaula bem fechada estourasse por si só os cadeados enferrujados, poderia ver o feixe de luz que vejo, como um céu ensolarado com luz viva de liberdade.

E se o teto caísse abaixo da cabeça abaixada, cortaria logo fora o pescoço dependurado sob a coluna vertebral bem inclinada, e aí poderia olhar pra cima e tocar em Deus, de que até agora só ouvi palavras.

Mas primeiro com uma serra serraria os tornozelos presos na terra, para que com os tocos de pernas pudesse correr pra fora da caverna de ilusões internas.

E se mesmo assim não fosse livre, mutilava os ouvidos, a narina e os olhos, então sentiria a brisa fina na face ensanguentada, e não veria nunca mais a face das pessoas devastadas, não sentiria o cheiro mórbido da cidade putrificada, nem ouviria essas horríveis vozes engasgadas.

E se nada disso adiantasse, purgava a alma até secar-se, com o sangue dava descarga, com o pó jogava na água.


1 hora e 40 minutos de 8 de março de 2011.

Na Rua

Um homem sem dentes gritava na rua

gritava e ninguém ouvia

chamava o cão que ali do lado latia

em meio a fomes, ferpas e firmas

um mano chocalho passou

mal olhou e pouco se admirou

o cão distraído também nem ligava

para o homem que a tanto gritava

o homem se sentindo traído

desistiu do intenso ruído.


12 horas e 43 minutos de 5 de setembro de 2011.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Eleonora

Pobre Eleonora, era tão bela e tranquila.

A calmaria era certa e a paz reinava,

mas homens de cinza e laranja chegaram para arrancar-lhe tudo o que havia.

Primeiro pisotearam-na sem dó para depois rasgarem teu lindo vestido.

Com uma grande faca perfuraram-na por todo o corpo e extraíram toda a carne

e o sangue em baldes era jogado fora como as fezes podres de um cão.

Agora desfigurada enchem suas veias de concreto

para que num breve tempo esteja reconstruída, alta, formosa e cheia de brilhos e perfume...

mas nada trará de volta a bela menina que antes existia.


10 horas e 4 minutos de 24 de agosto de 2011.

Noite de Núpcias

Volúpia na noite de núpcias

imaginária.

Cabelos lapidados de rica

pedraria.

Fina pele coberta de pêlos loiros.

Silhueta fatal.

Num traje impecável ela passou por mim

e com ela minha noite de núpcias imaginária se foi.


20 horas e 22 minutos de 16 de agosto de 2011.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O Pênis

O pênis penetra

adentra discreto

e sem recompensa.


Pela falta de uso

abusa do intruso

na mão curva.


A cabeça padece

encoberta de estresse

fingindo que foge

desse passado em S.


Ó, presente tão vil

e vão que faliu

que no tempo de agora

descansa, e aguarda sem demora.


Ano de 2010.

Poesia sem título sexta

Augúrio do tempo, tristeza latente, fingi, eu sei e você talvez

Um coração muito sensível, mas pouco importa o que pensam os outros

Solitário no mundo como uma bomba preste a explodir

Tic-tac de um sorriso colorido e enigmatizado pela obscuridade do tempo

Avante guerra, camarada

Eles nunca saberão

Quem sou e o que penso

Não é preciso dizer quem tu és, pois a alma liberta não possui adagas

Só que o passado se funde ao presente numa grossa e forte corrente de aço

E o sol que brilha lá fora ilumina estas garras que me prendem

Esqueço-me da modernidade para dar espaço ao tempo antigo, que por certo não volta, nem a emoção, nem a tristeza

E os transeuntes buscam o sucesso

e dão opinião, mas fique tranquilo, tudo passa e nada restará

A diferença é o amor que crava em seus corações inexoravelmente ao tardar da noite

E ao tentar encontrar o equilíbrio e a direção a seguir

Encontra uma sátira verdadeiramente irresistível que te trai e te leva de volta

com a mão no coração é que busca a resposta

Fique tranquilo, esqueça, ao fim nada restará

Esquecido pela noite como num golpe mortal

eu vejo seu reflexo no espelho

e quero navegar, e te ouço assoviar

Mas nada encontro

E todas aquelas noites de fumagem de nada valeram

A vertigem da vida acaba na próxima estação que te dirá aonde ir.


14 horas e 13 minutos de 16 de janeiro de 2011.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Conto

Conto meus dias pela quantidade de horas de trabalho

Conto meus amores pelas inúmeras desilusões vividas

Conto meus dias de vida pelas bitucas apagadas no cinzeiro

Conto minhas alegrias pelos bons momentos do passado

Conto meus companheiros pelos diversos indivíduos indesejáveis ao redor

Conto meu dinheiro pelo preço dos pacotes de feijão

Conto minhas músicas pelas repetidas notas desafinadas

Conto meus exames pela concentração de granulações tóxicas

Conto meus livros pelo número de páginas rasgadas

Conto meus sapatos pelos furos em suas solas

Conto meus programas pelas infinitas informações errôneas

Conto meus familiares pelas habituais hipocrisias

Conto minha liberdade pelas fixas correntes em meus pés

Conto meu tempo pelas noites mal dormidas

Conto minha fala pelo valor das ligações

Conto meus porres pela quantidade de copos d'água

Conto minhas dores pelas cápsulas ingeridas

Conto minhas viagens pelos finais de semana ociosos

Conto minhas drogas pelos êxtases alcançados

Conto minha fome pelos espaços vazios no armário

Conto meus conhecimentos pelas frequentes aulas cabuladas

Conto minhas histórias pelas memórias esquecidas

Conto minhas conquistas pelos viciosos fracassos no caminho

Conto meu sexo pelos tristes romances não terminados

Por fim, conto meu futuro pelas feridas ressonantes do passado.


20 horas e 31 minutos de 28 de janeiro de 2011.

domingo, 24 de julho de 2011

Companhia Paulista de Força e Luz

Somos todos paulistas, e daí?

Grande merda!

Paulistanos entorpecidos pelas suas voluptuosas futilidades,

Interioranos metidos à besta.

Carros e transeuntes se misturam na cidade

enquanto Seu Zé do Sítio enche a cesta

Todos se vangloriam da mesma desgraça

e se o Onipresente falasse, diria

”Bando de burros, explorados, e ainda acham graça”

Às 5 da matina começa mais um dia.

Quiçá às 6, às 7, às 13

em prol da cobiça dos que não sentem dores

como máquinas, repetem mais de mil vezes

e ao cair da tarde compram flores

para aliviar o sofrimento inconsciente

e mesmo assim soberbos, saem

dos seus formigueiros de gente

e ainda acreditam que se distraem

Pobres coitados, eles não sabem que o prazer da vida não está ligado no recado deixado de lado num momento de pressa

É pois, o brilho dos olhos que enche a alma de amor, até mesmo de uma cara sofrida

Mas eles não sabem, talvez nunca saberão, então deixem que vivam às avessas.


15 horas e 42 minutos de 11 de fevereiro de 2011.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Enfermo

Enfermo


Se a fagulha da vida agoniza

o corpo latente que luta

nem mesmo a morte aterroriza,

e chama, e ninguém escuta.


Se a mente confusa acredita

é perigo!

A imagem escura e maldita

te leva consigo.


Mas a alma é mais forte e sincera

e não deixa que o trovão estremeça

o coração que a tanto espera

pelo amor que jamais o esqueça.


A chuva sem trégua lá fora

ensurdece o ouvido já tampado

e entristece a noite e piora

a dor das lembranças de um tempo passado.


Se os olhos chorosos se esquecem

de manterem-se atentos

aquele senhora os entorpece

levando-os aos seus funestos intentos.


E se a narina na marra curada

se deixa sentir esta brisa

lá está ela preparada

pega teu sangue, ferve e frisa

e depois “embotilha”

numa bela garrafa, sem dó

e na noite em que a lua brilha

unânime, bebe tudo num gole só!


Nesta hora somente o Cosmos é capaz

de socorrer a energia perdida

que sob o corpo enfermo traz

o semblante sofrido da vida

de um jovem que busca a paz

na irrealidade de uma memória iludida.


3 horas e 4 minutos de 23 de dezembro de 2010.

domingo, 29 de maio de 2011

Poesia sem título quinta

Ó susto tamanho que putrificou a alma e o corpo

Susto precoce, avisado pelo passado torto

“Je t'aime Dieu” gritava e ninguém ouvia

e quando chamava, procurava e não via

Procurava pelo que? Por quem?

Não sabia, mas chamava

Ó medo do fim do qual nenhum escapa

e mesmo aquele vadio errante se safa

Por que eu? Ó Deus, porque eu?

Sentia algo estranho no coração

O sangue sujo passava por ele

e ele batia, chamava “vem”

Parecia que era o fim de um homem de fé,

sabedoria e filosofia, que nesta hora de nada valem

passado brilhoso oscilante, ora negro

sofria aquele homem.

Percebeu que sentia o coração errado,

não era o físico.

Voltou então à rotina da vida urbana emancipatória-delirante limitada

Tentando agora buscar outro caminho a seguir


20 horas e 30 minutos de 7 de dezembro de 2010.

sábado, 28 de maio de 2011

Poesia sem título quarta

Tem gente estranha, eu sei

Gente que não é daqui

Gente d'outro lado do muro

Gozando prazeres


Será que é gente mesmo

Ou nem gente é?

Talvez projeções humanas

Num mundo ilusório, vivendo vida real

Sentindo na pele aquilo que é bom

Fugindo da trama tristonha de uma vida normal


Querem, desejam, anseiam por algo

Será que sabem? Não sei.

Talvez sejam certos, esvairem a alma

A todo momento borbulham emoção

Amor? Quiçá.


Invadem, permutam, sossegam

Tranquilos no meio da guerra

Não sabem que é guerra, nem sabem

Pra quê saber? Sofrer? Melhor não.


Deixem vagar, deixem viver

Estórias para contar

Num domingo ensolarado típico

Descansarão seus corpos

Na segunda retornam, e tudo começa outra vez.


23 horas e 4 minutos de 13 de março de 2010.

Poesia sem título terceira

Caia sobre mim, tira-me desta história

Os olhos já não podem mais

Peço com louvor, tira-me

Os nervos também se esqueceram

Tudo se apagou aqui, apenas

trovões pareço ouvir, a chuva incessante de um início de ano inconstante

Com tantas chances sonhei, mal posso respirar

O esboço do futuro encurrala o presente

Traz à tona verdades inconvenientes

Caminhos errados não faltam

Parecem chamar: “Vem”

Mas o eixo central me impede

De partir para outro lugar

Quero mais do que tudo, eu já sei

Talvez seja a hora de olhar ao redor e ver o quanto vale a pena lutar

Por mais que pareça frustrante

Meu caminho vou fazer e

só eu sei como continuar.


18 horas e 43 minutos de 1° de fevereiro de 2010.

Poema da falta de sustento e/ou dos sentimentos egocêntricos

Quando chora, e chora

Se chora pela mora

o argumento é válido agora

Mas se finge que chora

e não se preocupa com a demora

tampouco com a hora

certamente a situação piora

e a lucidez vai embora.


11 horas e 57 minutos de 15 de fevereiro de 2011.

Quilômetros

Silenciosamente passam os quilômetros

Pela janela embassada numa madrugada quente

As duas ruas compridas, e pouco largas, vem e vão

Trazendo gente em cada vagão da máquina, em cada cabine

O coração palpitando por emoção

Descobre e redescobre.


9 horas e 34 minutos de 25 de abril de 2011.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amor Cósmico

No último dia do último mês, do último dia da Terra, um dia antes do eclipse e dois dias depois da guerra. No último minuto antes das últimas dobras daquele velho sino de bronze. As últimas folhas caíam com a ventania que ali cercava, e a lua cheia de vida trazia àquele velho jovem homem seu último suspiro. Aquele gás que em seu pulmão adentrara dali nunca mais sairia. Com fotografias nas mãos ele esperava o novo dia, que não viria. Mas um raio de luz repentinamente surgiu lá no céu brilhoso de estrelas, ofuscando-lhe os olhos. Seu destino era certo, e nada mais veria além daquela luz. Sozinho ali, nada poderia fazer para mudar seu futuro. Foi quando dos céus, desceu lá de cima uma bela jovem com aura divina, envolta em vicunha branca reluzente. Seus olhos logo se abriram novamente e nada mais enxergava além dela. Eis que disse ao homem que fosse com ela, e que ela, somente ela, poderia mudar sua sorte. O homem, sem saber de sua cova já pronta, mesmo assim, não hesitou e logo deu-lhe as mãos. Foi a sua salvação. Ao tocá-la sentia não somente sua pele, mas sua alma. Ela disse que o acompanhasse, e ele foi. Enquanto os últimos instantes da Terra ainda agrupavam grupos humanos de enormes proporções ao redor do mundo, sedentos inconscientemente de seu próprio fim, o homem com ela seguiu para cima. Passado alguns milésimos de segundos, já se via desmoronar lá embaixo aquelas grandes e cinzentas construções, e todos os corpos que nela haviam. O homem subindo aos céus acompanhado da bela jovem via aquele mundo cair sobre seus pés, e num movimento transcendente escapava definitivamente de seu fim. Ao alcançar o ponto mais alto do céu, além da lua, além do sol e das galáxias, o homem e a jovem decidiram parar, e em uma comunhão cósmica uniram-se eternamente e ainda hoje a luz que deles emite ilumina os cantos mais distantes do universo.

11 horas e 40 minutos de 29 de abril de 2011.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Poesia sem título segunda

O deleite do último trago

No meio do nada espasmos rasgados

Buscando saída no meio do encalço

Olhando a vida de cima pra baixo


Silêncio noturno

Pensamentos vagando chegando a Saturno

A morte vívida sentada ao meu lado

Encontro fagulhas no meio do fardo


Vozes diversas talvez de crianças

Crianças crescidas atrás de esperança

É pena sofreram tanto

Na madrugada sombria qualquer passo é tarde

O pigarro travado

O passar mecânico, zumbidos

E na minha cabeça uma luz


Ó feixe divino que chega tardio

Ainda é tempo

O recomeço é agora

E nesta luta sem fim me mantenho em silêncio.

24 de dezembro de 2009.

Crônica sem título primeira

E lá ia ele caminhando lentamente. D’outro lado da rua caminhavam rápido, mal se via a face dos transeuntes. Refletia sobre o que teria feito de errado.

Sob o sol forte, o suor tomava sua face carcomida pela vida, e sem muito sentido seguia, lentamente, mas seguia.

Enxergava entre uns e outros, rostos conhecidos que lhe faziam lembrar daqueles que deixou pra trás. Não possuía muitos conhecimentos naquela hora, apesar de ter estudado nas melhores escolas. Mal sabia o porquê dos passos, mas por instinto, seguia.

Não entendia como conseguiam andar tão rápido aqueles d’outro lado da rua, e enquanto andavam se comunicavam, interagiam intensamente. Pareciam muito certos daquilo queriam.

Ao tropeçar, caiu e não conseguiu enxergar mais nada, nada de novo. Estava afundado em sua própria cova, vendo sua carne pútrida sumir. Percebeu que andava errado, andava na calçada do passado.

Ano de 2009.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Amor

Amor

Quando ao calor da madrugada

Desatina na mais profunda

E sobre ele calam-se de repente

Eis que surge o tenebroso e tão risonho

Sentimento.


E se sentires vibrar por dentro e

Ao mesmo tempo estático

Sem que percebas

Nada pode ser além dele.


Nem ao menos uma ação

É precisa para ele

Pois sem que haja a matéria

Estará sempre intenso.


E sem dizeres, sem pensar

Surge ele e insurge

Mesmo no sofrimento

Ele se faz presente.


E se tentarem o detê-lo

Ou até enegrecê-lo

Na mais sensata das dores

Ou nas horas em que esteja

Estará lá dentro

Puro e ingênuo.

2 horas e 30 minutos de 16 de dezembro de 2006.

Pasión

Pasión

Força divina que faz o coração bater constantemente, coração incandescente que esquenta a alma e faz o sangue correr mais rápido pelas veias.

Paixão ardente que se concretiza na junção de nossos lábios e na quentura de nossos corações.

Sensações surpreendentes que fazem-nos esquecer de tudo e só pensar naquele momento.

Emoções se trocam na união de nossos corpos e criam um só coração dentro de nossos peitos.

Troca de olhares e carícias que liberam todo o calor que sentimentos um pelo outro.

Surpresas que fazem o suor escorrer pela pele e explodem a libido transformando o coração em um vulcão em erupção de emoções que deixam a mente insana e os corpos quentes.

Ao fim, cabelos embaraçados, respiração ofegante, corpos suados e a alegria de saber que tudo que aconteceu foi em função de algo tão inexplicável que é o amor, simplesmente, algo maravilhoso que contempla-nos mais e mais, eternamente eterno.

1 hora e 33 minutos de 13 de fevereiro de 2006.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Amor - Visão Global

Amor

Visão Global

Quem é este de que tanto falamos e pouco conhecemos?

Quem é este que elucida até a mais insana criatura?

Quem é este que porventura algum dia descobriremos?

Quem é este que inscrito está nas sagradas escrituras?

De onde vem tamanho sentimento que perpassa em nossa mente?

É ele. É o Amor.

Para muitos é apenas uma palavra que sai objetivamente pela boca.

Porém, para poucos é o sentimento maior que no homem pode existir.

É um sentimento que não pode ser descrito em palavras ou ações.

Tem de ser vivido para fluir.

E enquanto flui torna-se maior que tudo que está em volta.

Torna-se o regente da vida, unindo mente e coração, razão e emoção.

Para descobrí-lo é preciso muito esforço. Para concebê-lo é preciso convivência.

Para falar seu nome é muito fácil. Mas para sentí-lo quando se fala é muito difícil.

Amor é Deus, Amor é tudo.

30 de outubro de 2005.

Reflexão sem título segunda

Hoje, o sofrimento encandeceu e entrou em alfa, surgindo aquele que nem sempre está presente entre todos, a felicidade.

Rosa branca que desabrochou meu até então infeliz e sofrido coração, que após grande duelo, renasceu... Teu rosto tão belo, tua face tão clara e tuas longas madeixas encantaram-me desde o dia em que te conheci, fazendo meus olhos brilharem como pérolas, trazendo o verdadeiro sentido, fazendo-me ver com mais clareza, ouvir sem ruídos, respirar o mais puro dos ares e aguçando meu paladar ao sentir a doçura de seus lábios. Teu jeito meigo de ser me fascina. Sem ti não sei como seria minha vida. Gostaria de tê-la ao meu lado para me inspirar ainda mais, e poder beijá-la novamente, porém já são uma e trinta e cinco da madrugada e tu estás dormindo. Garota tão bela, só em ti pensarei, só tu amarei, minha sempre querida G.; a partir deste dia jamais te esquecerei e sempre estarei do teu lado.

17 de agosto de 2005.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Reflexão sem título primeira

Como pode viver com tal desencanto emocional, perdido entre o amor inexplicável para a razão humana, que em seu primeiro suspiro de tristeza derrama toda uma estrutura mental sobre a própria cabeça, perfurando profundamente o já putrificado coração que sofre cada dia mais sem saber ao menos o porquê de tanto sofrimento.

Descobrirei algum dia a razão do sofrer, que a inércia como sentido principal, aflige o mais puro dos homens, o único que guarda ainda em si algo generoso. Enfim lágrimas escorrem do rosto já inanimado, que ao relento frio vagarosamente se estirpe dentro do próprio crânio, desdobrando em mil pedações os restos encefálicos que ainda sobraram após a grande batalha mental travada entre dois elementos essenciais para a nossa (minha) sobrevivência: amor e atitude.

Ó Deus, porque judiais tanto do pobre mortal, que por indiferença, sofre profundamente, resguardando estas queixas apenas para si, e sofrendo arduamente sozinho em seu atual plano mental. Ajudar-me-á, ou esqueça de vez minha existência.

À Noite de 15 de agosto de 2005.