terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Liberdade

Na Liberdade encontrei minha prisão

ao lado da delegacia de Polícia Civil

como bala de canhão

martelada na cabeça

falseando sentimentos embebidos de emoção.


Do cano de esgoto do casebre

sai meu paraíso artificial

por trás das costas do mal

encontro descanso

no recôncavo baiano do homem normal.


Anestesia o copo, mas dele não sai mais

fica a lembrança do beijo de um capataz

na fumaça puro corte

do meu gosto mal amado

redescubro a cada dia

que a liberdade não tenho mais.


9 horas e 19 minutos de 15 de outubro de 2014.

Gripe

Hoje o dia está bom pra contrair gripe suína.


8 horas e 47 minutos de 2 de outubro de 2014.

Pecados

O meu jeito impensado

não dá conta dos pecados

ainda que fossem pecados

estava bom

mas pra mim nem isso são

drogas são alimentos

os desamores no contravento

são o meu cotidiano.


Solidão que não me deixa desiludir

com nada

realidade demais atrapalha

o visgo do amor é o muco

o muco é água

e a água é água e aí mesmo se acaba.


Pelo meu olhar nada passa

nada de alegria me alegra

só a tristeza me faz chorar

a pobreza, a fome, a desgraça

(dos outros)

de resto nada me ataca

nada me causa arrepio.


O blues, o samba, o rock, o clássico

pelo menos isso alegra a casa

devia deixar o som ligado quando saio.


Plantas diversas, aqui e ali

as rego por nada, pois delas não me alimento

não são amigas, são apenas vidas

e por isso mesmo as rego.


Nossa Senhora de Aparecida que me olha

o sexo sei que ela não desaprova

mas o resto...

por isso que viro sua cara

para que não veja as minhas atitudes desastradas.


Procrastino o trabalho

pois dele só tiro o sustento

mais nada.


Da minha vida, se espremer (e bem espremido)

ainda assim eu acho que não sai caldo

pelo menos é vida, porque a morte é o nada

diria o nada do nada

melhor estar vivo

e se não tem atrativo

tem pelo menos vinho, castanha de caju e chá de hibisco...


20 horas e 53 minutos de 3 de outubro de 2014.

Te vi no metrô

Me encantei com seus traços, moça

seu nariz que parece que levou um soco

é delineadamente belo

suas curvas verticais (e também longitudinais)

recheiam minha imaginação

já tão cheia de delicadeza (e safadeza)

seus olhos brilhantes como duas pérolas negras

nem perceberam minha presença

em compensação, eu

na sua ausência

sofro tanto.


Outro dia desses, quem sabe

nos encontramos novamente

e da próxima vez não perderei tempo

e me declaro por inteiro.


8 horas e 19 minutos de 9 de outubro de 2014.

À noite todo mundo se arrisca

Luz piscando à noite, é polícia? Não, é ciclista.


18 de novembro de 2014.

Um colega me perguntou

Colega meu, certo dia desses, me perguntou em quais banheiros eu já havia consumido drogas (leia-se, cocaína em pó).

Respondi que era melhor me perguntar em quais banheiros eu não havia consumido drogas (leia-se, cocaína em pó).

Então ele perguntou.

Respondi: “No banheiro das mulheres”, e ficou subentendido.


23 de setembro de 2014.

Organismo

O que entra pelo nariz vai parar lá no joelho... e aí dói.


8 horas e 33 minutos de 15 de outubro de 2014.