quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Linardo e Uísquine

Entrem em bancos

emersos pelo falso pranto

encurralem a tentativa

gritem “porra” para todo mundo

num telefonema de estranhos

seja dura, Fernanda

pedras, galhos e bugalhos

na cabeça

alucinado pela voz dicotômica

esqueça o bêbado deitado do lado

deixem o baleado na calçada

explodam o sangue pra fora das veias

aconselha, acalma o garoto

treze minutos passados

os efeitos irradiados

abaixa a bola, sim

uma hora a caverna escuta

mas não poderia ser

nem quando o grito é de amor

porque com gritos não se faz

espécime alguma de brilho nos olhos

sentimento apedrejado

numa caixa velha de vidro

repete, garota

antes que exploda a bomba

resgate a multiplicação

destile o álcool do sangue

e junte as toxinas pra fazer sabão

eu disse.


Prefere mesmo o leão?

Tá OK, tá OK!


23 horas e 12 minutos de 18 de janeiro de 2013.

Profecia matineira

Como espinho de alcachofra amarrei minha boca

No céu, nos olhos e no convés

Você fingiu pra mim a tua história

E eu apegado em você me desfiz das três horas

Você jogou poeira em mim

Mas quando você pedir “eu vou”

Te digo, meu amor, que vou

E se você soubesse o quanto eu sou

Não se distrairia mais com o traidor

Fecharia os olhos e esqueceria tudo, tudo


Vai, vem comigo navegar

O meu barco tá atracado pra você pisar


Vai, quero ver que sou

eu te amo, meu amor

não duvide, por favor...


Quase duas da noite de 20 de fevereiro de 2013.

O menino acelerado

O tempo de um banho dum do charmoso rebanho

ao calar da madrugada, na viela um estranho

ratos podres pelo asfalto procurando uma barganha

na cabeça uma estrada e a boca em desengano

salivada a fumaça na recente carapaça

no passar acelerado, olha o céu não acha graça

pelas janelas fechadas, sob luzes apagadas

foi-se embora como tinta que escorre pelo ralo

daqui a pouco ele volta, o menino acelerado.


Uma e poucos da madrugada de 20 de fevereiro de 2013.

Muleta

Não é isso que sou

mas foi isso que fui

e não mesmo pros dois

mas apenas pra um.


Almofada confortável

na beira da estrada

situação estável

pra quem estava arruinada.


Guia entre montanhas

e entre rios

no final uma barganha

e na minha cara cuspiu.


Aprendeu a andar

com os próprios pés

agora insiste em vagar

entre gentes ralés.


Bem erguida

mas sem mais erguidas

dispensou a guia

e segue sua própria vida.


E eu aqui engatinhando...

mas logo fico em pé...


15 horas e 23 minutos de 27 de novembro de 2012.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Plenitude

Se eu te encontrasse, amor

levaria aos céus

alguns fios de cabelo teus

para fazer uma prece

e pedir que ficasse para sempre.



Da água da cachoeira

faria tua comida

e com as pétalas mais raras

me perfumaria para você

logo veria o arco-íris nascendo

de doçura encheria meu dia

posso viver do teu amor

e o mundo esquecer.



Me leva contigo

que Deus deixa.



Meia-noite e cinco minutos de 7 de fevereiro de 2013.

Maloca

Vejamos bem meus amigos

esta retrospectiva

de pisões na terra

e escorregões férteis

enterrando os medos

dormindo mais tarde

uma pedra que cai no lago

e vai para o fundo

entra como saiu

acordando mais cedo

de entretenimento as paredes do quarto

não tem nada

nem de limpeza

o sangue pisado.



A ferida aberta cutucada

mal cicatrizada

amargurada pelo armário aberto

e vazio de saciedade

com o mundo empolgante de fora

nada tenho aprendido

mas não mesmo arrependido

pelo chão esbranquiçado

ficarão os pêlos e cabelos

nada mais restará

nem o tchu-bá-tchu-bá

tão cedo não tocará

uma ilusão em sessenta meses

e na cabeça uma paulada

e descansará...



21 de janeiro de 2013.

Uma e meia

Já chega

já deu né garoto.



22 de janeiro de 2013.

Poesia sem título nona

Impulso para a realidade

Um verdadeiro ímpeto embaralhado de emoções

Fluxo ilusório constante, nocivo

Curto e intenso



Nada mais que necessidade

Explosão de pensamentos, prazer momentâneo

Ciente de si, dos riscos

Emerso num caldeirão de futilidade



Aproveitara o instante, pois sabia que era único

Sabia que era perfumado, saboroso, táctil

Sensualidade sexual e erótica, domável

que expulsa o sofrimento



Eclode do que era necessário

sabendo o que ainda havia por vir

Insere-se num mundo novo, escuro

sujo, pútrido, violento, funesto...

prazeroso.



Sabia mais, sabia tudo

chegava longe, mais longe que havia chegado

E não chorava, pouco sentia

Sentia o agora, and the time is running fast, man

e não é hora de pensar.



Culminou à tragédia? Podia.

Mas não, segue adiante, mantém-se firme

mais ainda do que era.

E agora já sabia, sabia muito

Decidido despediu-se sutilmente,

com lágrimas mentais, mas partiu.



10 horas e 59 minutos de 27 de março de 2010.

Barganha congelada

Gelo petrificado

mítico misterioso

corrompido em seu ralo

por um pano de gozo

perdido paulatinamente pelo pêlo grosso

dum'ameixa em meio aquoso

ludibriantes brilhos do cristal

no hexágono interior

refletindo sobre o refratário dos olhos

mil perdões de dor

entorpecidamente adormecido

escorrido o suor pelo mato seco

remoído o sangue pro chouriço doce

pagos os impostos para a venda d'alma

e o suborno dos alfandegários do céu (ou do inferno)

estava pronto

lá dentro d'água cristalina

estará enterrada

coberto d'ouro-de-tolo e serpentinas

por vinte cinco mil pratas foi comprada!



21 horas e 25 minutos de 25 de novembro de 2012.

Amor

Em primeiro lugar o estômago, depois o coração.



19 horas e 49 minutos de 12 de novembro de 2012.