terça-feira, 25 de março de 2014

Arruda

Minha arruda brilha

na chuva

na luz do poste

da rua


Nos olhos prevejo

o que vejo

o brilho dos olhos

ensejo


Que num é primavera

senão floria a rua

na floreira amarela da vida

a arruda


Toxina pra desintoxicar

medicina da velha alquimia

a arruda que brilha a via

da vida da minha rua.


Madrugada de 12 de março de 2014.

Nada me causa arrepio

No canto direito o cachimbo

no canto esquerdo o pito

no bolso da frente o isqueiro

colado à base sem filtro


No pino, caprino de cocaína

no fundo da bolsa o litro

cirrose e câncer bem vivos

lutando no forte organismo


Nem um, nem outro

me fazem encanto

nem boca de vidro

nem nariz entupido


Cigarro maldito

na cabeça nenhum estribilho

um dia tem sorte

e me chega a morte.


Mas demora...


17 horas e 17 minutos de 20 de fevereiro de 2014.

Trabalho

Ninguém trabalha porque gosta, trabalha porque come.


16 de dezembro de 2013.

A Posse

Tum-tum-tum viragudum

algodão d’algum, arueiros e posseiros

nesta área tão devasta, pai com a madrasta

filha n’água

duas legitimidades, do antepassado e d’antes passado

cujo dono roubeiro de aluguel d’outra terra

prefiro comida do que salário

comunista da mão na obra

legislatititivo

cai abrigo de empresa

agropecuária inteira

complexidão n’outro algum

sindicalizado teu feio retrato

capricho nato do caprino a carrapato.


29 de novembro de 2013.

Desabafo

Em cima da caixa de esgoto

faço meu almoço

em cima do tronco

entre cogumelos alados

pinheiros cansados

encontro repouso.


De verde encho meu dia

de sangue minha noite

escuridão em meu coração

apesar da mal avaliada compreensão

enquanto durarem as penas

cumpri-las-ei

caso contrário, teria feridas.


Perto do lago, dos animais

vejo rotinas de trabalho

vejo ossos, vejo galhos

gengibre rachado no mato

esporos novos modificados.


Queria talvez encontrar

uma nova alegria, uma nova companhia

uma nota perdida, sentimento sincero

loira, morena, ruiva ou negra

fosse minha estava em alegria.


Recupero-me lentamente

destruindo pedaços meus

costurando com mel e limão

o desenxabido e estranho coração.


15 horas e 13 minutos de 4 de abril de 2013.

terça-feira, 11 de março de 2014

Confiei na tua higiene bucal

Confiei na tua

higiene bucal

mesmo sem te conhecer


Pela força da tua

artéria lingual

mastigou o papel

sem me desmerecer


Da tua boca saiu

meu paraíso artificial

ao preço de vinte reais


Eu só vi teu sorriso

nem olhei na tua cara

não te reconheço mais


Se vê que a tua saliva

era boa


13 horas e 45 minutos de 29 de janeiro de 2014.