domingo, 29 de maio de 2011

Poesia sem título quinta

Ó susto tamanho que putrificou a alma e o corpo

Susto precoce, avisado pelo passado torto

“Je t'aime Dieu” gritava e ninguém ouvia

e quando chamava, procurava e não via

Procurava pelo que? Por quem?

Não sabia, mas chamava

Ó medo do fim do qual nenhum escapa

e mesmo aquele vadio errante se safa

Por que eu? Ó Deus, porque eu?

Sentia algo estranho no coração

O sangue sujo passava por ele

e ele batia, chamava “vem”

Parecia que era o fim de um homem de fé,

sabedoria e filosofia, que nesta hora de nada valem

passado brilhoso oscilante, ora negro

sofria aquele homem.

Percebeu que sentia o coração errado,

não era o físico.

Voltou então à rotina da vida urbana emancipatória-delirante limitada

Tentando agora buscar outro caminho a seguir


20 horas e 30 minutos de 7 de dezembro de 2010.

sábado, 28 de maio de 2011

Poesia sem título quarta

Tem gente estranha, eu sei

Gente que não é daqui

Gente d'outro lado do muro

Gozando prazeres


Será que é gente mesmo

Ou nem gente é?

Talvez projeções humanas

Num mundo ilusório, vivendo vida real

Sentindo na pele aquilo que é bom

Fugindo da trama tristonha de uma vida normal


Querem, desejam, anseiam por algo

Será que sabem? Não sei.

Talvez sejam certos, esvairem a alma

A todo momento borbulham emoção

Amor? Quiçá.


Invadem, permutam, sossegam

Tranquilos no meio da guerra

Não sabem que é guerra, nem sabem

Pra quê saber? Sofrer? Melhor não.


Deixem vagar, deixem viver

Estórias para contar

Num domingo ensolarado típico

Descansarão seus corpos

Na segunda retornam, e tudo começa outra vez.


23 horas e 4 minutos de 13 de março de 2010.

Poesia sem título terceira

Caia sobre mim, tira-me desta história

Os olhos já não podem mais

Peço com louvor, tira-me

Os nervos também se esqueceram

Tudo se apagou aqui, apenas

trovões pareço ouvir, a chuva incessante de um início de ano inconstante

Com tantas chances sonhei, mal posso respirar

O esboço do futuro encurrala o presente

Traz à tona verdades inconvenientes

Caminhos errados não faltam

Parecem chamar: “Vem”

Mas o eixo central me impede

De partir para outro lugar

Quero mais do que tudo, eu já sei

Talvez seja a hora de olhar ao redor e ver o quanto vale a pena lutar

Por mais que pareça frustrante

Meu caminho vou fazer e

só eu sei como continuar.


18 horas e 43 minutos de 1° de fevereiro de 2010.

Poema da falta de sustento e/ou dos sentimentos egocêntricos

Quando chora, e chora

Se chora pela mora

o argumento é válido agora

Mas se finge que chora

e não se preocupa com a demora

tampouco com a hora

certamente a situação piora

e a lucidez vai embora.


11 horas e 57 minutos de 15 de fevereiro de 2011.

Quilômetros

Silenciosamente passam os quilômetros

Pela janela embassada numa madrugada quente

As duas ruas compridas, e pouco largas, vem e vão

Trazendo gente em cada vagão da máquina, em cada cabine

O coração palpitando por emoção

Descobre e redescobre.


9 horas e 34 minutos de 25 de abril de 2011.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Amor Cósmico

No último dia do último mês, do último dia da Terra, um dia antes do eclipse e dois dias depois da guerra. No último minuto antes das últimas dobras daquele velho sino de bronze. As últimas folhas caíam com a ventania que ali cercava, e a lua cheia de vida trazia àquele velho jovem homem seu último suspiro. Aquele gás que em seu pulmão adentrara dali nunca mais sairia. Com fotografias nas mãos ele esperava o novo dia, que não viria. Mas um raio de luz repentinamente surgiu lá no céu brilhoso de estrelas, ofuscando-lhe os olhos. Seu destino era certo, e nada mais veria além daquela luz. Sozinho ali, nada poderia fazer para mudar seu futuro. Foi quando dos céus, desceu lá de cima uma bela jovem com aura divina, envolta em vicunha branca reluzente. Seus olhos logo se abriram novamente e nada mais enxergava além dela. Eis que disse ao homem que fosse com ela, e que ela, somente ela, poderia mudar sua sorte. O homem, sem saber de sua cova já pronta, mesmo assim, não hesitou e logo deu-lhe as mãos. Foi a sua salvação. Ao tocá-la sentia não somente sua pele, mas sua alma. Ela disse que o acompanhasse, e ele foi. Enquanto os últimos instantes da Terra ainda agrupavam grupos humanos de enormes proporções ao redor do mundo, sedentos inconscientemente de seu próprio fim, o homem com ela seguiu para cima. Passado alguns milésimos de segundos, já se via desmoronar lá embaixo aquelas grandes e cinzentas construções, e todos os corpos que nela haviam. O homem subindo aos céus acompanhado da bela jovem via aquele mundo cair sobre seus pés, e num movimento transcendente escapava definitivamente de seu fim. Ao alcançar o ponto mais alto do céu, além da lua, além do sol e das galáxias, o homem e a jovem decidiram parar, e em uma comunhão cósmica uniram-se eternamente e ainda hoje a luz que deles emite ilumina os cantos mais distantes do universo.

11 horas e 40 minutos de 29 de abril de 2011.