sábado, 27 de dezembro de 2014

Deu dois?

Deu dois? Não sei.


Trinta e sete graus lá fora.

Brincadeira de menino ao som do ruído gospel

que com quarenta decibéis bate no quarto, na sala e na cozinha.


Incrédulo, mesmo.

São só três cômodos.


Pois aqui dentro de mim, no fígado, no rim direito e no cremaster

a coisa está bem fria.


Cérebro e coração são a mesma coisa.

A tesoura cortou meu dedo, que sangra.

Só ébrio vivo, sobrevivo.

A água não vence, repito o que disse o oncologista.


A meia do pé esquerdo furada me dói o dedo.

Lisura, ligeireza e faceirice me passam longe.

Rebanho só dos lobinhos negros...

Quem me dera!?


Uarrárrá, explode a risada no meio da sala de estar.

Ou está ou não está, é matéria.


Bactéria? Eu, hein!


Andropausa na juventude velha.

Calçada cheia de mato, fiquei com preguiça de limpar.


No Céu, Ele me espera.

Pois a Ele temo, mas nem tanto.

Mas que Nele acredito, sou prova viva.


Se desaprovava tua atitude impensada, repenso mais de mil vezes o que eu te disse.

Ah, me desculpa vai, nunca fui tão mau assim.

Eu sei que a fumaça do meu cigarro te embrulha o estômago

e o cheiro fétido da minha boca, apesar dos doze goles diários de Listerine®, te embrulha o estômago

e que os meus dizeres rasteiros, exatos na inexatidão, também te causam náusea.

Recomendo que procure um gastroenterologista.


Plantei um manjericão e ele cresce.

Cai o helicóptero do dono da cachaçaria e eu nem ligo.

Mas se nem pra você eu ligo, você sabe

eu só ligo pra Vivo quando preciso e rapidinho eu desligo.


Da Bahia ao Rio de Janeiro eu andei a pé pelo canteiro.

Bons tempos de mocidade, bons tempos de devaneios.

Após a cauterização do meu bronquíolo esquerdo, nunca mais fui o mesmo.

Já era tempo de casar, ter filhos, assassinar o amante da minha mulher

alguma coisa assim pra fugir da rotina.


Pra cadeia eu nunca fui e quando meu pai era vivo nunca o desonrei.

De usuário de drogas ninguém me chama, nem de burro.


É, meu caro Roberto

ou ouve o pastor ou continua na linha torta.

E eu que gostava tanto de torta de maçã hoje só como cebolas

descasco da branca e da roxa e enfio logo na boca.


Me perdoe, mesmo, se fui indelicado.


19 horas e 12 minutos de 27 de dezembro e 2014.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Caixas acústicas pegando fogo (e o som continua)

Liguei minhas caixas acústicas e pus no máximo volume

enquanto a chuva caia lá fora, eu me deliciava com smooth jazz e blues

ainda não havia anoitecido e eu senti um cheiro de queimado

quando desci as escadas as caixas acústicas pegavam fogo enquanto a música tocava

logo pensei em apagar o fogo e corri para a torneira

mas esqueci que a Sabesp só funciona do meio-dia às seis a partir de agora

(apesar dos altos preços, dos juros e da mora)

foi então que decidi voltar à minha atividade corriqueira

deixei o fogo pegando, o burburinho do combustão dava algo de especial à melodia

quando a última nota tocou o chão já estava em cinzas

a chuva que engrossava deu início àquela velha goteira

e quando voltei lá embaixo estava tudo inundado

o fogo apertou stop bem naquela faixa que eu gostava e a água levou a sujeira embora

percebi de novo que estava sozinho, cansei da pirotecnia e voltei para a minha agonia.


25 de novembro de 2014.

Otorrinolaringologista

Contratei um otorrino pra cuidar do meu nariz

depois ele me contratou pra cuidar do nariz dele

meu nariz logo se curou e o dele se empinou

(ainda mais)

ele me curou o corneto e eu meti na sua boca uma corneta

meu nariz nem o comerciante conhece direito

o dele, pelo tamanho, todo mundo conhece

uma troca justa essa, eu penso

o meu nariz cada vez mais cavocado e o dele cada vez mais esticado

se ele me cuida da enxugação, eu cuido da sua dilatação

trato feito e não se fala mais nisso.


20 horas e 35 minutos de 11 de setembro de 2014.

Noss’excitação

Encostam’os cotovelos e dali saiu faísca

logo fomos para pista pra ver se’um dos dois se arrisca

na nossa contravenção qu’é de uma ousadia

paramos na estação do metrô Vila Matilde

de lá muitos beijos demos e depois fomos pra cama

e no seu apartamento no mesmo momento gozamos

depois das nossas salivas, vinho tinto bebemos

que manchou as nossas bocas de cor-de-rosa’e vermelho

beijei o teu corpo inteiro e ela me lambeu todo

noss’excitação surpresa nos rendeu uns dez orgasmos

cansados e boquiabertos, vimos o sol na alvorada

dess’encontro inesperado só sobraram as lembranças

eu me levantei da cama e logo abri a porta

ela também não me procurou e dali se foi embora

sonhamos um com o outro, mas nunca mais nos encontramos

foi mais do que um sonho vívido, foi um amor eterno momentâneo.


15 de outubro de 2014.

Nunca vi

Nunca vi, isso aqui me dá fome e me dá sono!


2º semestre de 2013.

Não posso mais

Não posso mais

nem de um lado nem de outro

do lado direito uma neoplasia no seio maxilar inferior

do lado esquerdo uma carótida entupida...


Caralho de vida!


13 horas e 31 minutos de 21 de agosto de 2014.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Três mil seiscentos e oitenta reais

Neste país pra ter saúde

basta ter R$ 3.680,00

coisa pouca pra quem trabalha duro

dinheiro de pinga.


Se tiver que abrir o crânio

multiplique por 3

ao quadrado

coisa pouca pro pai de família.


Se for branco, nem peça desconto

que é mentira

ora, quem vem de família

tem que ter prata esterlina.


O doutor charlatão te cobra

o olho da cara

extrai o esquerdo e o direito

sem anestesia.


Te distrai com o seu manual explicativo

cheio de figuras ilustrativas

com o sangue que da tua veia ele tira

transformado em diecimila lire

promove mil e uma orgias.


Neste país verde, amarelo e azul

é assim

você paga o médico pra abrir tua cabeça

mas ele abre mesmo é o teu...


13 de agosto de 2014.

Papiloma? Não, Paloma

– Alô, Papiloma?

– Não, Paloma.

– Paloma ou Papiloma?

– Paloma.

– Com papiloma?

– Paloma, sem papiloma.

– Desculpe, foi engano.


20 de julho de 2014.

Este cheiro

Este cheiro de poluição parece coentro.


20 horas e 20 minutos de 2 de junho de 2014.

Reabilitação por mim mesmo

Parei de fumar na marra

parei com o tabaco

com o crack, com a heroína

com os cogumelos e com a anfetamina

parei de cheirar cola

tíner e benzina

no nariz nunca mais cocaína

nem ópio, nem Daime, nem lírio

sigo agora uma vida sem alegria

recuperando do câncer, tumor e da anemia

talvez seja essa a minha sina:

um cego sem cão-guia.


23 horas e 7 minutos de 28 de julho de 2014.

Um sábado qualquer

Não comi o que queria, só um lanche de churrasco.


19 de julho de 2014.

Um nariz delicioso

Quero chupar o teu nariz

tirar meleca daí

e me deliciar nos seus finos quadris

enquanto não nascer verruga nele

de bruxa eu não te chamo

escarra na minha boca

que eu gamo

deixa eu lamber seu ranho

que eu te farei feliz

simples assim

menina do apetitoso nariz.


9 horas e 46 minutos de 17 de setembro de 2014.

Aquela coisa

Eu sei que aquilo é a morte

a morte premeditada

não sei como entrei naquilo

quando vi já tinha dado descarga

e aquilo continua em mim

mesmo eu a tendo expurgado

não vai embora de mim

e fica e canta e lembra

e compra e vende e revende


No teto baixo do meu quarto

um pouco afundado

não vejo luz nem vejo descaso

só vejo a pedra no sapato

no ralo, no braço

nem o calendário asteca me agrada

nem a Nossa Senhora me salva

daquela coisa

que não amaldiçôo

porque sei que a culpa não é dela

a culpa é minha


E aquilo continua em mim

deixou marcas irreversíveis

como a chuva que chove lá fora

mas não chove, o tempo é seco

a Cantareira está seca

minha boca está seca

o meu cigarro está apagado


E assim vamos

e assim vemos

a vida passar num piscar de olhos

e aquela coisa continua...


23 horas e 32 minutos de 22 de julho de 2014.

Terminal

Agora que eu parei de fumar tem área de fumante no terminal...


22 horas e 44 minutos de 7 de agosto de 2014.

Tênia (nº 5)

Meus bichinhos de estimação são assim

um pouco invasivos

cansaram de comer cocô e subiram

foram direto para o umbigo

e estando de mal comigo

subiram mais um pouquinho

o problema não é a mamãe solitária

mas são os seus filhinhos

e por mais que retardatários

se alimentam à criptonita

do intestino ao coração, do coração ao pulmão

do pulmão à boca, da boca ao pulmão

mas eu parei de alimentá-los

e eles resolveram inflamar

desgraça de cisticercos

que não param de me atazanar

sete doses de albendazol 400mg

e não morre nenhuma grama desses benditos

ah, meus bichinhos de estimação são tão queridos.


15 horas e 38 minutos de 27 de agosto de 2014.

Tênia (nº 4)

Eu sabia que aquilo não tinha nada de peristáltico

e falei pra todo mundo:

“Estoucomtênia!”

Mas ninguém acreditou, me zombaram

E o bichinho se aproveitou

cresceu pra dentro da barriga

embriagado à gasolina

duma inalante fumaça cristalina

Bem sabia eu, mas ela ainda não sabia

abobrinha, tomate, orégano e pepino

couve-flor, acelga e carne de galinha

bem servida essa bicha!

Mas ela pôs seus ovos, maldita!

E eu falei pra todo mundo

e ninguém acreditou

agora espero o resultado do exame

que comprovou

sabia eu, não ela, mas se ela descobre estou fodido!

Minto a mim mesmo, que assim ela não descobre

e se encobre na barriga

que se descobre que descobri

os 10% serão comprovados...

Ai de mim!


18 de agosto de 2014.

Tênia (nº 3)

Ela já sabe que eu sei quem é ela

e deixou de ser agulha disfarçada

para virar comedora de intestino descarada

desgraça!


Cansa eu ou cansa ela

alcanço eu ou alcança ela

um dos dois tem que vencer essa guerra

e ela sabe que decerto será ela.


A espertinha mudou sua personalidade

e apesar da avançada idade

não há demência que a pare.


Quer bolo, eu te dou

quer água ou quer um salgado?

Quer cobertor?


Te dou tudo que você quer

porque amanhã minha amiguinha, você já sabe

com albendazol não adianta ter coragem

ainda é capaz de se esconder

ou num canto ou em outro

do estômago

na garganta ou no dorso.


15 de agosto de 2014.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Tênia (nº 2)

Taenia saginata inocente!?


12 de agosto de 2014.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Magnata‏

Todos se comovem com a morte do magnata

Companhia Brasileira de Alumínio, Votorantim e outras trapaças

pobre do pobre jogado na calçada

ninguém nem o viu e se olhou deu descarga

e do trabalhador que com os braços levantou seu império

só sobrou o laudo errado de um corpo fatiado no necrotério

discursos não faltam: “ajudou a construir o país, um patriota”

de bobo só o bobo da corte que se faz de idiota

“exemplo excepcional, pura dignidade”

então eu digo:


“A barata diz que tem sete saias de filó

é mentira da barata, ela tem é uma só

rá rá rá, ró ró ró, ela tem é uma só

rá rá rá, ró ró ró, ela tem é uma só!”


Que bela dentadura!


13 horas e 48 minutos de 25 de agosto de 2014.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Claptoptil

Sai de dentro de um barril

lá do fundo do rio

naufragado de um navio

direto pro Claptoptil.


Uma artéria entupida debaixo d’água

o nariz escorrendo outro rio de melodrama

o cérebro com memórias da deglutição desconexa

o pulmão já nem lembra da umidade excessiva

e a hemorróida atacada que arde, mas lava.


Na superfície lidocaína vaporizada

descarrêgo de uma carga de remédios na veia

pra tentar salvar a vida do 15 por 9

com 90 de batimento na carótida esquerda

o médico virou e disse que não tinha nada.


O mandou de volta para o fundo do rio

pediu inalação e todo mundo riu

amarrou bem preso de volta ao barril

quando deram por conta o problema sumiu.


23 horas e 35 minutos de 8 de agosto de 2014.

Voyage pittoresque au Brésil

C x3 30
Cr x3 30
M x3 15
colírio 12
Carlton x2 14
Eight x2 5
Terra Brazilis 14
suco 10
repelente 15
shampoo 5
sabonete 3
comida 15
aspirina 5
paracetamol 6
desodorante          3         
182
  + 100 extra  
282


roupa
dormir ir com
5 camisas 1 camiseta 1 camiseta
5 cuecas 1 calça 1 shorts
5 meias 1 meia 1 cueca
1 shorts 1 meia
2 tênis 1 tênis
1 blusa
1 camisa jeans


não esquecer isqueiro, tubo, tubinho e box, hip flask, mochila de couro, gillette


necessário
2 empty cigarette packs
3 empty water bottles Bonafont

uma bolsa transversal


folhinha de arruda no bolso e na mochila


abril/2014


Extraconjugal

Extraconjugal não passa do Natal.


8 de agosto de 2014.

Shortinho

Não encontrei o comerciante

troquei de esquina e segui

meu caminho errante


Outro dia encontrei crianças

e suas cáries pareciam apetitosas:

provaram que eram!


Mas quando vi teu shortinho

confiei em ti, menina

mas você me enganou


Logo cheguei em casa

e descobri que a tua caipirinha

era azeda!


21 horas e 11 minutos de 20 de março de 2014.

sábado, 5 de julho de 2014

O Desertor

Desertei

mas não morri

Fugi das garras

deles

e nem me reprimi

corri pela beira da mata

até a Avenida Beira-Mar

No meio do mangue

encontrei

a flor que me sorriu

Nossa Senhora não vi

meu pai é que a viu no oeste

mas eu no meio do agreste

olhei para lua e sorri

Então que terminou a viagem

pensei que a vida regenerasse

errei mais uma vez

daí de novo desertei.


3 de abril de 2014.

Vamos dormir

Vamos dormir que a sessão alicate-torto já acabou.


Uma hora de 12 de março de 2014.

Me proibiram

Me proibiram de tudo

Deus mandou

e Teu pedido acatei

o complexo bacteriano

também avisou

e preferi não arriscar

de novo

agora entre fagulhas me encontro

na tentativa de encontrar

um novo encosto...


20 horas e 14 minutos de 27 de maio de 2014.

A Barca

Só barca na rua

peluda sem escrúpulos

de velhos tempos de ditadura

sê levado pela viatura

incrédula na avenida

à paisana, despercebida

é loucura cruzar na tua rua

d’oito tiros morreu Dom Quimura

estreitamente afoita

esperando pela tua forca

com a força da desafiada foice

no silêncio acabou a noite

sem despedida nem bala perdida

só tiro certeiro na ponta da agulha

volta pra casa sem o tiroteio

e da mulher faz a tua barriga

que n’outro dia retorna à briga.


12 de março de 2014.

Colecionador de Latas

Eu comecei colecionando papéis

depois eu fui colecionando plástico

logo depois colecionando latas

e hoje estou colecionando nada.


18 de dezembro de 2013.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Você quer ser chic?

Todo mundo quer ser chic

quer ser fino e elegante

e não percebe que isso é

grudar num grude que não é seu

meleca do nariz dos outros

é limpar o vaso do presidiário

e vestir seu belo casaco listrado.


Não percebe que elegância

é respeitar a si mesmo e aos outros

é amar a quem te ama sem medo

pouca importa os talheres postos na mesa

ou os cabelos bem penteados

que mesmo nos pés tenha chinelos

tendo um sorriso de caramelo

estará assim elegantíssimo.


Pare de ser o que os outros querem...

encontre a sua felicidade.


Meio-dia e 50 minutos de 19 de julho de 2013.

O Horóscopo e o Crack

Certo dia Rumineu cansou de ruminar e decidiu olhar o horóscopo para ver no que ia dar. Lá dizia que o dia de muito não prometia, e que era bom guardar fatia do quinhão de dinheirinho. Bem no dia em que ele ia visitar aquela tia que vendia crackzinho pra poder comprar vestido. Refletiu o jovem Rumineu, bom temeroso a Deus, se o deus daquele Deus era mesmo o seu deus. Se lembrou daquela amiga que adorava Grécia antiga, se sentou e tomou vinho e até encheu barriga. Lhe dizia que horóscopo era só mitologia, que aquela parafernália no fim de nada valia.

Educado o pobre moço não sabia o que fazer, se gastava os vinte contos ou se deixava desvanecer. Posto o posto de trabalho, e depositadas as mixarias, decidiu enfim que ia atrás das quinquilharias. Como de habitual lá estava o marginal com seu penduricalho de trouxas, para trouxas, embrulhadas em jornal. Fechado o negócio com rapidez, dobrou a esquina Rumineu e deu de cara pálida com o inimigo do freguês. Avisaram os astros, mas o moço não ouviu, seguiram-no os panteras negras até a volta do rio. Sorte tem esse Rumineu, com seus ares bem pomposos, que afastou o olhar daqueles sedentos por ossos novos. E assim voltou com alegria para o lar, temeroso a Deus, continuava a ruminar.


19 horas e 10 minutos de 4 de julho de 2013.

Tecnologia

Um cego com touchscreen...


4 de dezembro de 2013.

Que Merda

Sexistas

qual é qual?

Racistas

desce o pau.


Machistas

ancestral

Pessimistas

tal e qual.


Esteticistas

afinal

Clarinetista

musical.


Canabistas

sempre igual

Calculistas

sem final.


2011.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Um sonho lindo

Porque você foi embora?

Bem no momento de agora

queria tanto estar em teus braços

ganhando e dando afagos

relacionando tudo ao nosso caso

queimando a lenha do amor

mas agora sinto dor

talvez queria eu o impossível

só queria beijar teu umbigo

você nem me viu, mas olhou

atordoou meu coração em vão

posso ser teu servo neste instante

se quiseres me pegue pela mão

leva contigo ou me deixa morrer

minha paixão clic-clac

choro por não ter esmola

para te comprar o céu e a terra

te encher de ouro e carinho

mas você não quer estar comigo

choro pelo não vivido

não enxergo sem óculos

deixa para o acaso

nosso encontro tão

e tão sonhado.


20 horas e 34 minutos de 28 de abril de 2013.

Lençol de desenganos

Dormindo ao lado do traidor

perto de sua boca traiçoeira

agarrado por suas mãos de asperezas

um lençol sujo e feio foi o que me sobrou

teu olhar soturno me mira inconscientemente

e minha mente perdida em desengano

já não fecha mais elétrons

que vagueiam tão perdidos

pela massa encefálica.


O amanhã como um novo dia libertador

a hemorragia estancou...

Eu acho...


10 horas e 53 minutos de 23 de outubro de 2012.

Teixeira, o melhor queijo de São Paulo e região

Hoje eu vou gangrenar a face

entupir os sinos paranasais

deslumbrar o olhar turvo

esfumaçar o quarto, a vila e o bairro

encher a barriga de álcool 92

e destruir as velhas adagas

de anos passados, de momentos não vividos

ouvir o som mais alto

incomodar os vizinhos enquanto me acomodo

de olho numa estrada calma

distraindo o tempo

recheando de bombons aromatizados

em poeira que sobe e desce

pois Nicuri é o diabo

vaporiza o que é sólido

grão em grão queimando

de olho n’água

robustos olhos, melhor que escapa

nhô nhô nhô e nhá nhá nhá foram pro céu

descido a costa alta, relutante deste naufrágio

uma selva de pedra de pedras

não queria essa raspa de Teixeira

queijo ralado, marca fraca, vaca pobre

deliciosos recôncavos, dorme velhinho

apodrecido pelo já reorganizado espírito

calço qualquer calo, rapadura é o que não falta

roda a roda redonda em voltas cíclicas de outrora

chegando ao infinito

nada me é restrito, tudo parece possível

juventude de volta, umbilicalmente o umbigo

sabão de coco misturado na narina desagradada

só queria matar a saudade, e fingir que você não vê

nem meu grito, nem meu lamento

mas nem sei mais quanto eu aguento

prefiro não arriscar o intento

melhor mesmo voltar a realidade

e parar de perder meu tempo.


Meia-noite e 35 de 2 de agosto de 2013.

SMS

Sob a luz de um celular temeroso

apodrecido o múltiplo gozo

meu olho esquerdo desgostoso

e você me olhando sem nojo


Parece até um telefone

e Matthew já mostrava o cremaster

mas não é disso que falo

seja ele delirante ou não


Peço socorro? Não.

Não sinto a vontade do pão

nem dos jogos de mão

tampouco dos lábios rachados


Dos sentimentos eternos

falsos e irreais foram meus dias

crescido, o broto

mas melhor fazer mesmo o aborto


Na encruzilhada que me encontro

tuas vaias me ferem

teus toques me fecham

teu calor não comove

melhor você como alma penada

do que isto que chama de todo

mas realmente não é nada.


11 horas e 50 minutos de 5 de fevereiro de 2013.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Cinzas

A minha festa de Carnaval

começa nas Cinzas

literalmente cinzas

no cachimbo de prata esterlina

de mendigo.


Uma folha de ouro

da rua

perfurada, nua e crua

incendeia a brasa

da folia que não foi.


A música do samba

sai do tambor

para as caixas acústicas

enquanto a língua degusta

o sabor amargo e a dor.


Festeja sozinho

a festa de um povo inteiro

regando o meu próprio terreiro

até vir a chuva

e levar as cinzas

para outros carnavais.


Quarta-feira de cinzas do ano de 2014.

Destrava

Travei ainda no flerte... mais uma vez.


10 de agosto de 2013.

Espinha de Droga

Dá na testa, dá na orelha

explode o seu Sardenha

reencontra sua crença

na caixinha de surpresas

alumínio espedaçado

no nariz e na orelha

reencontra sua fossa

no esgoto de outro alheio

se é alheiro de outro homem

despedida em reencontro

acneica esta bola

que me cresce o dia inteiro.


21 horas e 26 minutos de 22 de agosto de 2013.

Viela, calado

Rapazote acelerado

que ainda não foi caguetado

sorte desse moço ressabiado

corte e costura na viela ao lado

duas da matina alucinado

reverbera o pulmão ensanguentado

olho vermelho e o peito afogado

enterrado e esgotado

desta luta incansável

ferida incurável

vício maldito e inseparável.


Duas e cinco da matina de 29 de agosto de 2013.

terça-feira, 25 de março de 2014

Arruda

Minha arruda brilha

na chuva

na luz do poste

da rua


Nos olhos prevejo

o que vejo

o brilho dos olhos

ensejo


Que num é primavera

senão floria a rua

na floreira amarela da vida

a arruda


Toxina pra desintoxicar

medicina da velha alquimia

a arruda que brilha a via

da vida da minha rua.


Madrugada de 12 de março de 2014.

Nada me causa arrepio

No canto direito o cachimbo

no canto esquerdo o pito

no bolso da frente o isqueiro

colado à base sem filtro


No pino, caprino de cocaína

no fundo da bolsa o litro

cirrose e câncer bem vivos

lutando no forte organismo


Nem um, nem outro

me fazem encanto

nem boca de vidro

nem nariz entupido


Cigarro maldito

na cabeça nenhum estribilho

um dia tem sorte

e me chega a morte.


Mas demora...


17 horas e 17 minutos de 20 de fevereiro de 2014.

Trabalho

Ninguém trabalha porque gosta, trabalha porque come.


16 de dezembro de 2013.

A Posse

Tum-tum-tum viragudum

algodão d’algum, arueiros e posseiros

nesta área tão devasta, pai com a madrasta

filha n’água

duas legitimidades, do antepassado e d’antes passado

cujo dono roubeiro de aluguel d’outra terra

prefiro comida do que salário

comunista da mão na obra

legislatititivo

cai abrigo de empresa

agropecuária inteira

complexidão n’outro algum

sindicalizado teu feio retrato

capricho nato do caprino a carrapato.


29 de novembro de 2013.

Desabafo

Em cima da caixa de esgoto

faço meu almoço

em cima do tronco

entre cogumelos alados

pinheiros cansados

encontro repouso.


De verde encho meu dia

de sangue minha noite

escuridão em meu coração

apesar da mal avaliada compreensão

enquanto durarem as penas

cumpri-las-ei

caso contrário, teria feridas.


Perto do lago, dos animais

vejo rotinas de trabalho

vejo ossos, vejo galhos

gengibre rachado no mato

esporos novos modificados.


Queria talvez encontrar

uma nova alegria, uma nova companhia

uma nota perdida, sentimento sincero

loira, morena, ruiva ou negra

fosse minha estava em alegria.


Recupero-me lentamente

destruindo pedaços meus

costurando com mel e limão

o desenxabido e estranho coração.


15 horas e 13 minutos de 4 de abril de 2013.

terça-feira, 11 de março de 2014

Confiei na tua higiene bucal

Confiei na tua

higiene bucal

mesmo sem te conhecer


Pela força da tua

artéria lingual

mastigou o papel

sem me desmerecer


Da tua boca saiu

meu paraíso artificial

ao preço de vinte reais


Eu só vi teu sorriso

nem olhei na tua cara

não te reconheço mais


Se vê que a tua saliva

era boa


13 horas e 45 minutos de 29 de janeiro de 2014.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

A Sina

Se o problema da minha vida

fossem duas balas perdidas

uma no queixo outra na barriga

estaria em eterna alegria.


Se o anseio da minha sorte

fosse a cadeira da morte

punha dois seios postiços

e um recôncavo decote.


E se me dessem espumante

completava com éter e sangue

e clorofórmio delirante

para ampliar aquele instante.


Mas me deram um maçarico

um ferro pra soldar e um pinico

e assim segui a minha vida.


18 horas e 53 minutos de 2 de janeiro de 2014.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

A micose

A micose que se faz por mitose

não se faz por osmose nem por Osbourn’Ozzy

Se alimenta a quitina

ao crescer a cretina

me peliculica por sob a retina

Oras bolas dela

que me embolota a derma

carruagens soltas da erisipela

Si versiculou a bola

bem na pitiríase-cola

mata o fungo brabo

antes de cheirar a cola

Botaocremiclonazol

por cima a sina do tersol

mãos e pés imaculados

rachados, podres e truncados

castra o bicho unguento sua maldade

sob a pena eterna da idade em grade.


Meia-noite e 54 minutos de 28 de novembro de 2013.

Paulo Maluf Revolucionário

“Patricinhas...

Estupra depois mata.”


11 horas e um minuto de 14 de maio de 2013.

Cebola polida

Comi teu véu de noiva

na noite de núpcias ensolarada

vestida como uma moribunda

você estava e professava:

“Caiam raios em minhas madeixas”

Pobre coitada!


Quebrei os sapatos de cristal

em mil pedaços

e engoli tudo, enquanto

rasgavam minha garganta

deliciava-me!


O vestido que outrora brilhava

agora em sangue se banha

e os olhos de peixe esbugalhados

e os dedos da mão direita tortos

soltam-se do corpo despedaçado.


Patética existência inacabada

risonha morte que a consagra!


19 de março de 2012.

Coisinha linda

Coisinha linda,

mas não é pro meu cacife...


19 horas e 58 minutos de 22 de maio de 2013.

Meu Jardim

A boa formiga é aquela que gosta de ser espezinhada

não tem medo da dor nem do futuro incerto

é uma criatura sublime, de emoções amplas e generosas

alimentada por uma boa mãe, é vistosa e sensual

possui valores sólidos e uma ética inalienável.

Pobre criatura, ao primeiro pisão não tem tempo nem de pensar...


As baratas, ao contrário, são seres deveras evoluídos

buscam uma raiz ancestral que legitime sua tirania

praticam o sexo livre e não são dadas à monogamia

e ainda possuem cascos duros para enfrentar qualquer confronto

preferem mil vezes um cano sujo a uma extensa pastagem.

Chegaram as baratinhas a tal ponto que seu DNA é complexo e mutante

só podem ser freadas com venenos fortíssimos

mas em poucas gerações retomam seus postos na mais alta hierarquia.


Não tente esmagá-las com pisões, aposte no ADT e no BGH em alta concentração!

Não deixe-as escapar, pois as chances de voltarem para lhe torturar são grandes!

Não confie nestas criaturas, pois na primeira ocasião te apunhalarão pelas costas!


Cultive sempre em sua casa um bom jardim de formiguinhas

elas desencadearão boas conversas e lhe darão emoções sinceras...

Se assim o quiser, é claro!


Meia-noite e cinco de 23 de outubro de 2012.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Volta

Diante deste que vos fala está aquele que é em si, está para si, conserva os tomates secos em óleo de dendê, apesar mesmo da raiz d’África ser longínqua. Renego terminantemente meus ancestrais nórdicos, não por sua aparência pálida e olhos de bolinha de gude, mas porque deste modo me enojam. Perguntam-me — e bem quando quero paz — quais meus sonhos, o que espero do futuro. Pois vos digo que sou um homem sem sonhos, que o futuro venha por ele mesmo. Detesto vitimização e, no sentido inverso, poderia bem vomitar aos leitores que minha vontade de hoje é o prato de comida e as minhas frutas de amanhã, mas a detesto. O sol flameja na alvorada e a lua congela ao fim da volta da elipse, que gira e gira e gira. Estas tecnologias igualmente me dão enjôo, USB é bom só pra pisar, pois desagrada o Criador assim como os carros. E Ele deu água, deu chão, deu grãos, mas já não se importam e cospem biscoito recheado de... sabe-se lá o que. Do lado de cá a vida é desgostosa, não há mais chimarrão, correm sem sentido, e eu queria tanto um sitinho com cedros e mangueiras caipiras. Tem que encher enfim o peito de fumaça pra tentar ser feliz, esquecer as feridas e deixar o Staphylococcus agir. Uma flor na janela, um colchão no chão, um edredom, e eu mesmo sozinho serei feliz. Diante de tudo não volto, pois quem dá voltas não vê a vida passar, o contradito é o certo, e não mais.


Meia-noite e 4 minutos de 17 de abril de 2013.

Colegial

¡Yo no puedo con esas coxas!


15 horas e 24 minutos de 8 de agosto de 2013.

Eu sabia, não falei, não falei‏

Entre uma dose e outra contam-se alguns minutos, pra saber que está seguro, pra ter certeza que a noite será longa, destrutiva, contagiante, enlouquecedora... será? Essa coisinha nem faz nada. Era melhor gastar mais e comer outras coisinhas da terra. Mas se prefere o quadradinho, que faz ele agora? Para que isso? Nem sei, nem vou saber, quem sabe, quem saberá? E daí, é assim mesmo. Fumaça escorre até pelo ralo, mas ainda bem que não tem ralo. Punhetinha de verão não. Erosão da própria erupção, rodeando os cavalos marcados pela vida de peão. Segue, segue, vai em frente... não se lamente... Se a bebida acaba e o bolso não se mostra, descansa do jeito que Deus gosta. Se entregue ao descanso quando a noite acaba, por mais que não quisesse que acabasse, ventila essa fumaça.


6 de agosto de 2013.

Seu Erro

Seu erro não foi cagar...

Mesmo o intestino mais preso um dia caga...

O seu erro foi cagar e esfregar a bosta na minha cara.


30 de julho de 2013.