terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Fim de Tarde

Fechou a porta

eu acendo meu cigarro

de papoula avermelhada

leva aos mundos encantados

meu olhar ensolarado

minha mente infreável

sob a tosse engasgada

alimento meu pigarro.


Nas veias, nos braços

e sempre no coração

amortece, mas não mata

nem sequer me paralisa

mas ajuda a agonia

esfriar no novo dia.


Depois disso só a cana

desengana e desencana

o pensamento acertado

mais vale um gole

que um beijo mal dado

melhor um porre

do que a hipocrisia mascarada.


Se na fumaça encontro graça

o pulmão agradece

se no fluído etílico encontro um filho

o fígado celebra.


Dez Mil vezes o sublime

ao monótono!


15 horas e 45 minutos de 23 de novembro de 2012.

A Louça

Um prato de porcelana fina

se vem alguém e caga em cima

não adianta água raz nem creolina

o cheiro fica.


É melhor trocar a louça

pra servir essa comida.


Meio-dia e poucos de 29 de outubro de 2012.

Luta de Classes

O criminoso assassinou cruelmente um homem rico...

Ô criminoso bom!


(Observações genéricas com coro)


[ Matou um intelectual?

Ô criminoso bom!

Matou um político?

Ô criminoso bom!

Matou um branco de olhos azuis?

Ô criminoso bom!

Matou um da classe média alta?

Ô criminoso bom!

Matou uma socialite?

Ô criminoso bom!

...

E por aí vai e um dia o mundo será melhor. ]


20 horas e 55 minutos de 18 de outubro de 2012.

Poesia sem título sétima

Ah, bem que fossem maravilhas

sentia falta do bom e velho gosto do vinho Merlot

amargo e forte, graças a Deus!

Infinitamente, não te trocaria!

Feito das mais puras vinhas

vinhas d'almas puras

e'impura alma vinha

me tirar teu velho gosto...

Liberdad'alma, liberdadinha

mais vale um gosto já dizia

jamais encobre este rosto

mostra ao mundo tuas filhas

sem carne e osso, sinapsías.

Voa gaivotinha, voa...


Meia-noite e meia de 17 de outubro de 2012.

Guerrilheiro

Descansa, corajoso!

Descansa!

Mostra tua face frente à guerra

Mostra tua cara ensanguentada

Esconde a ferida e mostra a arma

Não deixe que o tirano o destrua

Desamarra!

Não volte para casa

Com a guerra interminada

Reza por teus filhos

Tua mulher

Ela te espera!

Morra, mas com honra!

Não deixe que o tirano o destrua

Volte para casa

Só com a guerra terminada

Descansa, corajoso!

Descansa!


19 horas e 43 minutos de 18 de outubro de 2012.

Egoísmo

Como disse o poeta: “Da minha merda, o dono sou eu!”


15 horas e 39 minutos de 25 de novembro de 2012.

Les Blondes

Estas loiras de hoje em dia

não são burras, são medonhas

são pedaços mais escrotos

que rodeiam os urubus

teus sorrisos tão secretos

são hipocrisias certas

tua baba envenenada

mata trouxas e insanos

cretinice e falsidade

fazem o seu dia-a-dia

no salão do Renatinho

se embelezam com Karina

pensam que são melhores

mas não passam de fezes

cor de gema de ovo.


21 de março de 2012.

Primeiro Amor

O “premiere amour”

Quando a chuva canta em meu ouvido e a brisa fresca trazida pelo vento em minha face me fazem pensar

Quão belo é o primeiro amor, o amor puro, o amor sincero

E se os trovões ensurdecem-me e os raios cegam-me, mesmo assim aquela bela lembrança ainda permanece

E permanece, permanece sabe-se lá porque

A ilusão adolescente é talvez o que faz as lembranças manterem-se vívidas

Como um filme que você assistiu uma única vez e nunca mais encontrou

Procurou em todas as gavetas, em todos os cantos, e não encontrou

E vira-e-mexe você consegue assistir ao trailer, apenas alguns flashes

Mas mesmo assim vale à pena, pois as boas lembranças são sempre bem-vindas

É que o brilho nos olhos às vezes assusta

O agora tão triste, tão só

E ao redor todos brincam, todos amam

E aqui o mundo não muda, continua igual

Igual a ontem, igual ao hoje, talvez igual o amanhã

Melhor que seja assim, assim de vez em quando recebo a visita daquele tempo

E vejo como a vida foi bela

E pensa talvez que daqui pouco tempo posso encontrar um novo “premiere amour”.


18 horas e 16 minutos de 18 de março de 2011.

Aroeira

Aroeira me dá suas flores ao vento

Aroeira me dá seu perfume sem cheiro

tuas pétalas alimentam as massas

microscópicas

no lodo sujo e fedorento

Massas muito mais dignas

que a existência humana

Elas têm sentido


Aroeira iluminada por luzes eletrônicas

me dá seu descanso

me dá seu conforto

Sábia gimnosperma

me aloca tuas sábias idéias


E se um dia te matarem

e só sobrarem os matos

mato quem te matou

e guardo comigo teu belo retrato.


22 horas e 5 minutos de 18 de outubro de 2012.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Estrela caída

Ó vidas feridas, ó feridas que calam

Ó feridas que curam, ó momentos que passam

Sabe a vida esconder teus segredos

pegando uma estrela caída e pondo em teu bolso

o amor te toca!


Nunca deixe-a apagar!

Salve-a!


Senhorita que passa-me

seduz-me e encontra-me

diz-me e ama-me

nunca deixa-a apagar!


Salve-a!


Março de 2012.

Destruído

Me talharam os braços

Me talharam as pernas

Me cagaram na boca

Me deram esperma.


Tive que engolir tudo

Sem pestanejar

Pois o improvável

Ia acontecer.


Incondicionante

Incondicionável

Indimensionável

É o meu viver.


Corro livre e solto

Como lagartixa

Que perdeu sua filha

E o rabo não vê.


Leva bem pra longe

Incondicionável

E imemorável

É o meu viver.


Alguma hora do crepúsculo, quase-noite, do dia 20 de agosto do ano de 2012 de ascensão do nosso bom e justo Senhor Jesus Cristo, Amém.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Culinária cega

Já são quase meia-noite

e a panela fumega...


A panela que coze no escuro

não coze miúdos, mas coze grãos graúdos

e legumes.


Já são quase meia-noite e meia

e a comida está quase pronta

na panela cheia.


Já é quase uma hora

e a comida está pronta

e o alimento enfim alimenta.


A ceia é servida

numa sala escura e solitária.


Dali a pouco já é quase uma vida,

já é quase uma morte...


E a panela que coze no escuro

continua a fumegar e a cozer

grãos graúdos e legumes...


22 de maio de 2012.

Síntese

Há pouco tempo atrás homens compravam escravos. A modernidade é incrível. Hoje compram carros...

D'um asteróide ao desentupido

Não fica na minha mira

senão não evito a mira

expira, espirra e aspira

e coagula o sangue na pia.


Desentope minha agonia

e me dá sua Clarice Lispector alegria

catequiza o catatônico

e o joga em água fria.


Após o banho-maria

coaduna na sangria

e saberá qu'est'empatia

já vem lá da sua tia.


Agora esfria

e olha a álgebra algorítmica

começará a sinfonia

na vigésima do dia.


19 horas e 37 minutos de 27 de agosto de 2012.

sábado, 8 de setembro de 2012

Ponte dos Remédios

São nestes tempos que a seiva vital jorra da artéria

Nestes meios-tempos, nestas meias-horas

E serão nestes mesmos termos que trabalharei.


Incluso o rebelde insurrecionário e adaptado

recluso na sua orla escarlate rosa-shock

como se estivesse perdido, está bem resolvido.


Os lírios que brilham ao sol chegarão ao pulmão do homem

reservarão para ele momentos bons

descobrirão em sua alma o despedaçado coração

e erguerão o encéfalo-falo encefálico

a níveis dantes nunca imagináveis.


A seiva bruta que tornara o chão escorregadio

secou ao sol como carne-seca de avó

misturou-se misticamente com o branco pó

e deu liga à vida quase-morta.


São verdes os matos e arecas-bambu

são amarelos e brancos os reflexos do pára-choque

desenxabido mesmo é o vermelho do sangue.


Se o trem da vida fosse semi-automático

faria logo seus trilhos férreos em direção ao caminho

mas estamos na Idade da Pedra

e as coisas dos homens se resolvem com guerras

que entopem as vívidas guelras.


Olha pra mim e enxerga o que eu não vi

cospe na minha cara que estou morrendo de sede

me urina nas costas que é pra refrescar as dobras

e descobre ao fim que o que resta são sobras.


Do alto do prédio de mármore e cobre

encobre logo estas verdades

que doem n'alma e na terra.


As copas das árvores infelizmente não copulam

o ócio do ópio realmente não perdura

o sangue que escorre, em dois tempos coagula

e o casco da tartaruga em decênios vira fruta.


Que momento mágico e sublime que me escolhe

minha armazenagem é visceral e extremamente forte

boa sorte para os desavisados

mas não é com dois tapas

que você me dobra.


Meio-dia e 16 minutos de 17 de agosto e 2012.

Labor d'Inverno

Prancha d'água que corre a ladeira

me ponho na beira para evitar esta noturna escorregadeira

fugindo da água suja traiçoeira

vou perdendo emoções em meio a tanta lameira.


A chuva rasteira que me acerta em cheio

me joga pra longe do meu confortável celeiro

me rasga a garganta com papel de holerite

minha ruína é certeira e indubitavelmente triste.


Se não descanso ali, nem descanso aqui

descobri meu repouso no dia em que morri

e agora aquela prancha d'água matadeira

mata a sede dos vermes que me devoraram delicadamente.


Eles pensavam: “suculentos pedaços de carne de um corpo podre, gordo, sujo, intoxicado e levemente adocicado... agri-doce!”


Meio-dia e 48 minutos de 17 de julho de 2012.

Pirulito do magrelo

Ó lá a gordinha!

A gordinha vai secar o pirulito do magrelo

apertando a bochechinha dele

ela num Fiat Uno velho

e ele com os pés de chinelo...


Vai lá magrelo!

Pra andar de carro velho

primeiro apaga o fogo da branquela

deixa ela prensar teu pirulito

até você pedir trégua...


Depois um bom passeio de carro velho

e a gordinha paga um x-burguer pra você

e um x-tudo para ela!


18 horas e 5 minutos de 24 de abril de 2012.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Incursões

Estas rúbricas e doces vozes escondidas atrás de feras extintas pelas suaves campanhas, de um amargurado e enfermo coração pedante, inebriado pelas calmarias tão desejáveis. Eis a tormente destas subversivas idéias, o antiquário na parede e a goela engasgada. Entristecedora é a vida truncada na seiva de um poste ou no doce amargo e cru de um sonho, do qual nenhum deles escapa. Que feras raivosas imbricadas n'alma serena, que ao nascer do sol se espreita e cessa fogo, após a agitada freneticamente noite. Quando o coração desistiu do intento, o gelo morno se esfriou e calou a boca dos quatros cantos da sala. Ó piedosa e sombria deusa, mãe da sabedoria, empresta para o meu povo teu louro cajado e clareia a mente destas almas profanas.


2 horas e 2 minutos de 19 de junho de 2012.

Metropolitano

No centro do Brás tumultuado, no eixo errado

sentido leste corrosivo, sentido centro implosivo

o bojo no seio da menina é visível

o olhar do mano irascível

e do guarda corruptível.


O negão com a careca bem brilhosa

uma mulher que passa bem cheirosa

um senhor com ar de prosa

e o cara que fala baixinho: “Gostosa!”


Um casal do lado só na pegação

e o rapaz alto com o teto na mão

a jovem que cochila com André Vianco em vão

e a senhora com cara de piedade

pede lugar a mulher de pouca idade.


A moça de óculos em pensamentos vagando

e a loira oxigenada tagarelando.


Formigueiro locomotiva

cada um com suas conexões

todos seguem o mesmo sentido

das formigas urbanóides sem sentido.


13 horas e 35 minutos de 5 de setembro de 2011.

domingo, 15 de julho de 2012

A árvore

O pêlo caiu

na ponte que partiu

no meio do dia

ao meio-dia

baixo a sombra fria

de um manifesto de agonia

onde qualquer alegria

se banha em água fria.


O pêlo crespo

que do braço caiu

sob o sol fez seu rastro

em meio a poeira

o alabastro assombrou

o pêlo que parte.


Qual na terra ficou

bem o rio o deixou

lá no canto da beira

da beirada rasteira

e ali se aterrou.


Fez raízes, fez galhos

tantas flores peludas

e de longe se avistava

qu'ela árvore crespuda.


8 horas e 45 minutos de 17 de abril de 2012.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Papo de universitário

Papo de universitário

é chato pra caralho

intelectuais fictícios

soberbos

do alto de suas cadeiras de madeira velha!


Os papéis com os quais escrevem

são os mesmos que desdobram-se trazendo poeira para dentro do orifício nasal.


Pseudo-chiques, gays, biscates, rockeiros, certinhas, muitas japonesas e um ou dois negros.


Sociólogos pitorescos, psicólogas descontroladas, engenheiros grotescos e enfermeiras pseudo-médicas.


Pronto!

Agora que você aprendeu fica fácil!

Jogue tudo numa panela de pressão e deixe cozer por 30 minutos.

Você terá uma deliciosa, e indigesta, sopa de universidades!

(Universotários!)


18 horas e 58 minutos de 28 de março de 2012.

A pançuda

A patricinha magra

porém empanturrada com carne podre

num blá-blá-blá desenfreado

reclama de barriga cheia

de carne podre.


Sua saliva venenosa

supra-enzimática

apodrece a comida

antes mesmo de chegar ao estômago

mas a faringe e a laringe, como se vê

estão boas.


Ah, que bom seria se os assassinos

escolhessem melhor suas vítimas

e fatiassem bem fatiado

estas intrépidas criaturas

com os bolsos cheios de dinheiro

e o ventre cheio

de carne podre.


13 horas e 37 minutos de 9 de abril de 2012.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Rotina de um esfomeado

Almoço arroz puro todo dia

jogo óleo em cima pra completar

meto sal pra melhor tragar

engulo tudo d'uma vez só!


Bebo água gelada pra tirar o gosto

depois repito o procedimento

e ponho mais 3 colheres grandes

que é pra não acabar com tudo!


Limpo os beiços e lavo

o prato, o garfo e a faca

seco e ponho na caixa

depois mais meia hora de sono!


Logo volto a trabalhar

e já acordo com fome!


11 horas e 23 minutos de 15 de março de 2012.

Traidor

Você diz que está na batalha

mas já não sabe de nada

está com a farda manchada

tal qual no fio da navalha.


Você permanece na luta

e enfrenta viciosas disputas

gasta com belas prostitutas

o que ganha com suas escutas.


Você é um comédia, covarde

se esconde atrás do seu disfarce

cinco da manhã não é tarde

correndo maluco de infarte.


Dilacera a tribo inflada

desfaz tudo com suas jogadas

pega o parceiro e dá descarga

e sai com a narina empinada.


Se liga, teu plano caiu

o chefe tua bronca cobriu

prepare para acender o pavio

pois no teu horizonte sombrio

quem te espera é o covil.


22 horas e 25 minutos de 12 de novembro de 2011.

Manuscrito

Sábio diplomata bizantino

chega à Florença

sob o sol matutino

traz consigo a sua crença.


No vernáculo burguês

esconde-se o moderno

já era o fim do mês

anotava no caderno.


E aquele velho manuscrito

ressoava tuas idéias

na cabeça do romano monolito

o sangue tirano corria em tuas veias.


Mas um erro de tradução

ocultou uma pessoa

verdadeira traição

presenciada naquela proa.


20 horas e 20 minutos de 20 de setembro de 2011.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Quase Meia-Noite

Outro último trago

tragado rasgado

roendo alvéolos

aliviando o cérebro

piteira de marra

que à mil graus

se infarta

sangue denso e

pulsante

corre forte e

pujante

inebria e esfumaça

o coração pedante.


23 horas e 57 minutos de 23 de fevereiro de 2012.

Infortúnio

O sofrimento constante

na veia gélida

impregna a alma

de dor profunda


as nuvens soltas

no céu profuso

embaçam a vista

de calamidade


sopram no ar

agulhas negras

que ferem fundo

o coração tardio


e no chão escorregadio

escorre a água densa

e escarlate

escurece os pés soltos

que se mantém em pé

ainda


que a sorte

deixe acontecer

o que o futuro

espera


e que os ventos novos

traguem a fumaça preta

e tragam a verdadeira

felicidade.


16 horas e 6 minutos de 16 de outubro de 2011.

Corporation

A Alstom lavou todo o dinheiro

e a CCR é assassina

mas acabaram com a graça dos bahamas:

puteiro.


No MP é só tramóia

a SPTrânsito e suas bolas

a Porto Seguro segurando a bóia

enquanto a Fleury rouba teu sangue

e cola.


No Banco do Brasil o capital estrangeiro

e a Droga Raia te ajudando a morrer

no saguão do Center Norte

ninguém aguenta o cheiro

de ar CBG misturado com a morte.


A Eletropaulo que eletrocutou teu bolso

o Carrefour e o Extra fazendo seus gostos

Sabesp lavando as ruas com esgoto

e o nosso governo bom levando seu troco.


Enquanto os bacanas andam em seus carros

o pobre cada vez mais miserável

pra sustentar o luxo do ladrão

acha no lixo seu ganha-pão

enquantos eles fazem suas mansões

os outros fazem seus arrastões.


2011-2012.

sábado, 28 de abril de 2012

Na luta do dia-a-dia

Eu não vivo

eu sobrevivo

não restam pingos

de lágrimas, nem sorrisos

só bocas famintas

presenciando a miséria viva

enquanto uns moralizam

outros tentam encher a barriga

e o que sobra para o pobre

que tem sede, tem fome

e não mora em bairro nobre

com os pés na terra

e a cabeça vazia

ainda querem que eu lute

eu vou pra guerra

do dia-a-dia

passando aperto

pra poder sustentar família

eu encho o cesto

de comida

aí é só alegria.


14 horas de 30 de janeiro de 2012.

Cigarritcho

Queira ou não

um cigarritcho substitui o pão.


Quando a fome aperta

a fumaça resolve.


Se o frio te esfaqueia

brasa quente incendeia.


Um golitcho de cana

pra virar sussuarana.


O álcool queima as tripas

aquece a barriga vazia.


E se você não sente dó

é porque ainda não viveu o pior.


23 horas e 1 minuto de 19 de dezembro de 2011.

sábado, 14 de abril de 2012

Deixa-me o Sol

Pede ao Cristo, pede ao tronco

pede à bola, pede à Lua

Tua face nua e crua

nas paredes de Istambul


Corre tão dependurado

pelo seu imaginário

Foge quieto irritante

não enxerga o horizonte


Olha o porco destroçado

requentado do amanhã

Olhos torpes e fechados

na manhã ensolarada.


9 horas e 27 minutos de 3 de janeiro de 2012.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Um conselho

Aos hipócritas dirija-se com hipocrisia

não importa se é o primo ou se é a tia

tenha na face sempre alegria

diferencie-se, exiba tua elegância

àquele que pensa que engana

finja ser enganado

pois assim saberá que não te engana

sorria à falsidade de qualquer idade

mostre tua inteligência e perspicácia

cuspa na cara da maldade com sorrisos

mostre teus dentes limpos às dentaduras viciadas

tua sabedoria causará inveja

e tirará o sono do enganador

que pensará agora duas vezes

antes de vomitar suas mentiras esfarrapadas.


22 horas e 13 minutos de 26 de fevereiro de 2012.

sábado, 24 de março de 2012

Inventaram nossa nacionalidade

Inventaram nossa nacionalidade

para os ricos e pomposos

as gentalhas são só sobras

e os escravos manivelas.


Nem Bonifácio, nem Hipólito

imaginaram um sonho sólido

era um sonho em devaneio

para os ricos e pomposos!


Haja pedras a construir

uma nação em diferenças

estabelecem tua crença

e também o teu salário.


Não resgatam os teus filhos

que no chão sujo estão cuspindo

esmagam-lhes com teus sapatos

numeração quarenta e quatro.


Salva-lhes Iemanjá

Ogum, Exu ou meu Obá

pois uma nação inventada

é para ricos e pomposos!


11 horas e 37 minutos de 19 de março de 2012.

terça-feira, 20 de março de 2012

Metaforicus filus

Sinoguardo rabião

túnica no chão

rebereta ansamina

talco a tua sina

nicho máchono pra gótico

diferente do estóico

se não pluma engasgada

silvestres d'uma enxada

ditador parafernalha

meta-te na tua fornalha.


1º de setembro de 2011.

sábado, 17 de março de 2012

Céu de Estrelas

Numa noite calma

sem passo, sem alma

peraí vai com calma

não pisa na bola não

não joga sua vida em vão

cuidado pra não escorregar no corrimão

mas voltando a Rosa Alva, Três Marias,

satélite utopia

e o avião de bateria

lá pra lá da serrania

nas montanhas d'Oypundá.


1 hora e 13 minutos de 26 de novembro de 2011.

Fetiche

Fetiche é coisa de rico

pobre não precisa de fetiche

não precisa de lingerie decorada

oncinha pintada, coelhinha.


Fetiche é coisa de rico,

pobre não precisa disso

pobre está pronto o tempo todo

“Manda vim, vem que tem!”


Fetiche é coisa de rico,

coisa de quem não consegue subir

coisa de quem não tem pique.


Pobre está sempre pronto,

“Pó mandá ví! Pó mandá ví! Pó mandá ví!”


17 horas e 9 minutos de 21 de dezembro de 2011.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O Abismo

Na beira de um viaduto

quase caindo no precipício

o pai e o filho

sentados à frente do abismo

observavam tranquilos

os motoristas perdidos.


Janeiro de 2012.

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Animais

Triste é ser um passarinho estranho no ninho piando por papinha

ou um coelho encurralado protegendo sua família

Feio é ser lobo sem matilha ou arara sem cantiga

cão sem dono e preguiça sem fadiga

Cruel é ser rato sem gavião

ou barata sem cano sujo

Ser primata falante é fácil

duro é ser presa


23 horas e 6 minutos de 30 de dezembro de 2011.

Nostalgia

Bons tempos de miséria.

Bons tempos em que

a minha única preocupação

era a fome.


E isto não é metafórico

ou como quer que chamem os cerebróides.

Mil vezes mais amena a dor nas vísceras

do que a dor no coração.


Sinto falta a azia

que queimava a barriga vazia

borbulhas de primazia

que ao intestino feria.


Ó saudades do capim pastoso

que em fumaça enchia o peito

daquele amargo infinito

daquela dor crônica.


Leva-me de volta

para os tempos de miséria

corta meu salário

e liberta minha alma.


20 horas de 18 de outubro de 2011.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Sem chão

Dos papéis só sobraram as cinzas

dos quadros só o resto da tinta

das portas e armários, lascas de ferpas

da poltrona de couro, os rasgos

o chão que despencou em pedaços

e as paredes quebradas do quarto

rebatem os ruídos sonoros

dos sopros da Louisiana

apegados aos pés da cama

que sobraram.


O travesseiro de ácaros

amansa o peito queimado e ensanguentado

pelas pontas de espelhos de aço

escalpelado, forçado o pescoço pelo teto torto

escorre o escarlate fluído

que embebe os mórbidos escombros.


Meia-noite e 48 minutos de 31 de janeiro de 2012.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Alimentação

Quem come à R$ 29,90

de certo que a cabeça não esquenta

e no final quiç'ainda dá gorjeta.


Molho madeira, azeite extra virgem?

Na barraca da tia, só croquete, nem quibe.


Aspargos, couve-flor e maionese?

Mostarda Heinz, alcaparras e gergelim?

Come devagar e no final sorri?


Enquanto isso na calçada da rua

a salsicha esquenta

o purê de batata fervendo

cobre o pão de vinagrete e desejo.


Enche a pança do trabalhador

que lambe os beiços

que é pra não sentir dor.


Refresquinho de caju à R$ 1,50?

Quero ver se a madame se contenta.


Mas isso sempre foi assim

não tem jeito

quem tem come bem

quem não tem, come mal

mas come também.


Meio-dia e 53 minutos de 20 de dezembro de 2011.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Reintegração de Posse

Paulistas canalhas

desalojam desabrigados

para construir suas muralhas


Tucanos assassinos

matam o bebê ainda dentro da barriga

mas não fazem o mesmo com seus filhos


Não olham em seus rostos

e das velhas moradias

sobrarão só os escombros


Vendem a vida de famílias

para enriquecer suas companhias

enquanto suas filhas vadias

vendem o corpo por mil libras


Tiram o teto dos necessitados

à base de bala de borracha

e coronhadas

jogam-lhes no buraco

tratam-lhes como trapos

como pedras no sapato


Tiranos, queimem no inferno!

Tiranos, cuidado, perfuraremos o seu terno!


8 horas e 59 minutos de 2 de fevereiro de 2012.

Poesia sobre os constantes processos de reintegração de posse realizados no estado de São Paulo.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Nostalgia (nº 2)

Há quatros anos atrás eu andava nesta avenida

as feridas feriam, eu olhava as gramíneas

as paredes descascadas, nostalgia


Meia-noite, um tanto quanto afoito

voltando pra casa, careta tão doido

atrás de alguém, atrás de alguma coisa

eu me lembro bem disso daqui

eu me lembro do que eu vivi

eu vejo as árvores e sei que eu estive ali


Hoje é dia e está cheio de pessoas

ontem quando estive aqui

há quarenta e oito meses atrás era noite

e não havia ninguém na passagem

mas o passo era rápido, o passo era rápido


Esta avenida tão cheia de carros e de fumaça

naquele dia eu só via as luzes dos faróis

e o brilho dos postes e das casas

e dos shows e dos restaurantes

e da vida correndo enquanto eu corria para fugir dela


Assim como antes eram luzes natalinas

eram prédios iluminados, eram vidraças refletidas

arecas-bambu pela calçada

e o mato ali na beirada


Mendigos dormiam na praça também

e eu queria tanto me juntar a eles

mas não podia, pois meu coração naquela hora

quase nem batia


Hoje tudo aquilo ficou pra trás

aqueles anos de guerra e paz

já não existem mais

e os eucaliptos mais crescidos, mais robustos


E a correria que eu faço agora sob sol a pino

naquela noite de luar

eu só queria era um pino


Mas quando o passado bate na porta

a gente o revisita, o revive

o reconfigura, e pode assim entender melhor

os próprios pensamentos, seus sentimentos

os tantos momentos


O que ficou pra trás não volta mais

mas o que está por vir

eu espero que venha com paz


Meio-dia e 26 minutos de 17 de dezembro de 2011.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Solidão

De que vale o ser, se é o ser sozinho?

Não há sentido na vida singular, mas no mundo de hoje é o que mais se encontra. O viver sozinho não basta ao homem, e por mais que a acomodação cubra-lhe os olhos e faça-o acreditar, ainda assim não basta.

Num mundo sozinho, na realidade interior, não há em quem se apoiar. Não há trocas, não há experimentação. E quando cai a noite, é aí que o coração se fecha em si mesmo; a mente, em sua maioria fácil de enganar, se engana. Dorme profundo como uma criança, mas como uma criança órfã, porque a criança sabe que tem o conforto da mãe.

E ao despertar daquele sono agoniante, se depara novamente com a solidão e vê o mundo lá fora, que de nada tem a ver com o seu mundo. De que vale o ser, se é o ser sozinho?


18 horas e 41 minutos de 12 de fevereiro de 2011.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Dois mil e doze

Estávamos acostumados com nossos dois zeros

por dez anos anos nos acompanharam

o que sobrou durou mais dois anos

mas agora são dois mil e doze

e ele já sabe que ficará só

por pelo menos noventa anos

pobre zero perdido

tantas vidas passarão por ele

tantas mortes, tantas feridas

e o pobre coitado ainda descobriu

que quando dois mil e cem chegar

ele não estará mais lá

será substituído por um um magrelo

dois novos zeros aparecerão no final

mas apenas dez anos sobreviverão

depois seus amigos só serão lembrados

a cada dez anos, quiçá.


Pobres zeros esquecidos.


20 horas e 44 minutos de 2 de janeiro de 2012.

Pressa

A pressa apressa o coração pra bater mais forte

apressa o infarto, apressa a morte

muda sua sorte.


10 horas e 12 minutos de 13 de setembro de 2011.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Domingo

É no domingo que as angústias ferem e as feridas gritam

É no domingo que a tristeza vem mais profunda

É no domingo que o corpo parece não se mover

É no domingo que as lágrimas ensejam escorrer

É no domingo de chuva que as nuvens cospem pra fora todo o sofrimento

É no domingo que as luzes parecem não iluminar mais

É num domingo que as memórias e lembranças e histórias viram filme

É sempre no domingo que a fome bate mais tarde

É sempre num domingo que aperta a saudade

É num domingo que a fumaça do cigarro passa lenta

É num domingo que o banho é o único aconchego

É no domingo que o som toca mais alto

É no domingo que as trancas não se abrem

É, e sempre será no domingo

pois domingo é o dia do pensar

Amanhã nada mais disso existirá


19 horas e 29 minutos de 13 de novembro de 2011.

Preguiça

Homem ou mulher

que 500 metros tem medo de andar

de sopa não adianta dar a colher

seja expresso o café ou seja de chá.


Preguiça de se mexer

e de pôr as pernas pra se movimentar

é preguiça de viver

é preguiça de pensar.


Vontade de correr sobre borrachas

só pra cortar a esquina e depois voltar

isso na minha mente não encaixa

pra mim isso é preguiça de estar.


Se com gasolina prefere se intoxicar

do que com ar “puro” respirar

continue dentro da sua caixinha

pois a preguiça comigo não vou levar.


20 horas e 36 minutos de 15 de dezembro de 2011.

Poesia sobre a preguiça.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Atenção senhores passageiros

O avião sobe a subida sórdida

Paulos, Plínios e Pedros Paulo

Guinchos guiados pela guia gonorréica

Galhos troncudos e enraizados no ar

Papagaios discutindo sobre política

E sementes que brotam no escuro

Guitarras distorcidas pela usinagem

Fezes podres fedendo a fome

Água suja desencanada

Trombas e trombas de porretes no solo

Motores maléficos e malfeitores

Escravos com sotaque solto

E pedras quebrando nos olhos vermelhos

Suor escorrido e descida sem fim

Furo grosso e profundamente mal furado

Ao inferno chegaremos, senhores passageiros

Abaixe as guilhotinas antes que o fogo nos queime

Quando a alma cuspir a matéria

Abrace o papai chifrudo

Pai da terra, pai dos homens

Luciférica será tua consciência.


14 horas e 31 minutos de 1° de dezembro de 2011.

Carta aos Patrícios

Eu, Herculano, pobre mortal, endereço esta carta a todos os Patrícios.

Definem-se por Patrícios aqueles homens que provém de famílias abastadas e de linhagem nobre. Contemplam-lhes, ainda, as mais finas qualidades: inteligência sui generis, superioridade racial (sangue azul) e beleza estética. Outrora, possuíam caráter divino, e distinguiam-se dos outros tipos de homens por estarem mais próximos de Deus, característica que hoje não mais se aplica.

Diferentemente de seus ancestrais, os quais muitos eram guerreiros, possuíam grandes exércitos e estavam sempre na frente de batalha, exibindo tua genuína virilidade, vigor e macheza, os Patrícios de hoje já não se dão com as armas. Ao invés do belo cavalo veiga como insígnia de status social, estes homens exibem-se em automóveis de alto valor comercial, sempre acompanhados por um punhado de agregados: um ou dois rapazes, e no mínimo duas ou três moças de plasticidade sem-igual.

Todos estes atributos fazem com que jamais possam ser confundidos com a plebe. Grosso modo, o que lhes diferencia é a não necessidade de trabalho para o auto-sustento. E se o patrimônio familiar for bem cuidado, é provável que nunca o necessitarão.

Pois bem, feita a breve descrição dos destinatários, profiro finalmente o meu intento.

Caros Patrícios, permito-me nesta humilde carta fazer-lhes algumas objeções, apesar de que, minha convicção é certa que jamais lhes darão a atenção devida, ou nem mesmo as lerão. Mesmo isto não me impede de deixar meu testemunho.

Dificilmente poderão entender o real sentido da vida permanecendo uma vida toda escondendo-se atrás de bens materiais. Infelizmente teus bens não possuem sentimentos, meus caros. Talvez, somente quando sentirem-se plebeus é que poderão conceder sentido a qualquer coisa que seja. Quando souberem que é pelo suor do trabalho que se obtém o alimento. Quando souberem que se as mãos não se calejam, o estômago se esvazia. E se tivessem família, descobririam ainda que se o sol não reflete na testa, são mais de três bocas secas e famintas.

Pois é, nobres homens, somente, e tão somente, por esta via, poderão um dia descobrir um sentimento verdadeiro. Descobririam assim, que nunca foram felizes. E mais: descobririam que somente a plebe é feliz, pois é entre o povo que os sentimentos são reais, e o resto todo é invenção. É o povo que descobre a felicidade por si só, à revelia destes que nascem em berços de pseudo-felicidade. A felicidade é do povo, Deus é do povo.

Viva o Povo! Viva a Plebe! Viva os Pobres! Viva a Vida!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Chaminé do Amanhecer

Fumaça azulada pelos raios da manhã

fumaça espessa cristalina

queria enfiar a cara na boca da chaminé

e padecer lentamente.


Monóxido de carbono por monóxido de carbono

cheiro de óleo diesel é frutado

e fumaça de caminhão tem cheiro de chocolate.


O bebê que acorda aos berros clamando por sua mamadeira de puro cloro

e o pai de família que levanta com fome de ferrugem de ferro

enquanto a mãe prepara o chorume bem fresquinho.


O fogo que queima ininterruptamente

não dá sossêgo ao ego intoxicado.


Abre a porta com cuidado, mãe

que o rio corrosivo invade logo o barraco

mas não esquece de engolir tudo

quando o Dr. Alcides chegar.


Todo dia de manhã

não esquece de lamber o enxofre incrustado na caldeira

e beber o detergente industrial meio-agradável

e traz pra mim a querosene diluída

que é pra eu não poder me afogar.


7 horas e 5 minutos de 28 de novembro de 2011.

Luminária Natalina

Até o quartel está iluminado!


Luzes reflexivas ofensivas

cada ponto é um Deus

explodem nos olhos dos cidadãos

rasgam a córnea e dilaceram a retina

cegam os já iludidos

escondem em seu brilho os juros da prestação

rebatizam sua alma com notas de cem

e agora os olhos padecidos só enxergam a vitrine.


As luzes que extrapolam aos andantes

são as mesmas que correm nas casas

que iluminam as cidades e que entristecem os céus

essas luzes violentas

ludibriam a consciência.


21 horas e 57 minutos de 15 de dezembro de 2011.

Poesia sobre o Natal.