quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Carta aos Patrícios

Eu, Herculano, pobre mortal, endereço esta carta a todos os Patrícios.

Definem-se por Patrícios aqueles homens que provém de famílias abastadas e de linhagem nobre. Contemplam-lhes, ainda, as mais finas qualidades: inteligência sui generis, superioridade racial (sangue azul) e beleza estética. Outrora, possuíam caráter divino, e distinguiam-se dos outros tipos de homens por estarem mais próximos de Deus, característica que hoje não mais se aplica.

Diferentemente de seus ancestrais, os quais muitos eram guerreiros, possuíam grandes exércitos e estavam sempre na frente de batalha, exibindo tua genuína virilidade, vigor e macheza, os Patrícios de hoje já não se dão com as armas. Ao invés do belo cavalo veiga como insígnia de status social, estes homens exibem-se em automóveis de alto valor comercial, sempre acompanhados por um punhado de agregados: um ou dois rapazes, e no mínimo duas ou três moças de plasticidade sem-igual.

Todos estes atributos fazem com que jamais possam ser confundidos com a plebe. Grosso modo, o que lhes diferencia é a não necessidade de trabalho para o auto-sustento. E se o patrimônio familiar for bem cuidado, é provável que nunca o necessitarão.

Pois bem, feita a breve descrição dos destinatários, profiro finalmente o meu intento.

Caros Patrícios, permito-me nesta humilde carta fazer-lhes algumas objeções, apesar de que, minha convicção é certa que jamais lhes darão a atenção devida, ou nem mesmo as lerão. Mesmo isto não me impede de deixar meu testemunho.

Dificilmente poderão entender o real sentido da vida permanecendo uma vida toda escondendo-se atrás de bens materiais. Infelizmente teus bens não possuem sentimentos, meus caros. Talvez, somente quando sentirem-se plebeus é que poderão conceder sentido a qualquer coisa que seja. Quando souberem que é pelo suor do trabalho que se obtém o alimento. Quando souberem que se as mãos não se calejam, o estômago se esvazia. E se tivessem família, descobririam ainda que se o sol não reflete na testa, são mais de três bocas secas e famintas.

Pois é, nobres homens, somente, e tão somente, por esta via, poderão um dia descobrir um sentimento verdadeiro. Descobririam assim, que nunca foram felizes. E mais: descobririam que somente a plebe é feliz, pois é entre o povo que os sentimentos são reais, e o resto todo é invenção. É o povo que descobre a felicidade por si só, à revelia destes que nascem em berços de pseudo-felicidade. A felicidade é do povo, Deus é do povo.

Viva o Povo! Viva a Plebe! Viva os Pobres! Viva a Vida!

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