quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Aquela coisa

Eu sei que aquilo é a morte

a morte premeditada

não sei como entrei naquilo

quando vi já tinha dado descarga

e aquilo continua em mim

mesmo eu a tendo expurgado

não vai embora de mim

e fica e canta e lembra

e compra e vende e revende


No teto baixo do meu quarto

um pouco afundado

não vejo luz nem vejo descaso

só vejo a pedra no sapato

no ralo, no braço

nem o calendário asteca me agrada

nem a Nossa Senhora me salva

daquela coisa

que não amaldiçôo

porque sei que a culpa não é dela

a culpa é minha


E aquilo continua em mim

deixou marcas irreversíveis

como a chuva que chove lá fora

mas não chove, o tempo é seco

a Cantareira está seca

minha boca está seca

o meu cigarro está apagado


E assim vamos

e assim vemos

a vida passar num piscar de olhos

e aquela coisa continua...


23 horas e 32 minutos de 22 de julho de 2014.

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