Há quatros anos atrás eu andava nesta avenida
as feridas feriam, eu olhava as gramíneas
as paredes descascadas, nostalgia
Meia-noite, um tanto quanto afoito
voltando pra casa, careta tão doido
atrás de alguém, atrás de alguma coisa
eu me lembro bem disso daqui
eu me lembro do que eu vivi
eu vejo as árvores e sei que eu estive ali
Hoje é dia e está cheio de pessoas
ontem quando estive aqui
há quarenta e oito meses atrás era noite
e não havia ninguém na passagem
mas o passo era rápido, o passo era rápido
Esta avenida tão cheia de carros e de fumaça
naquele dia eu só via as luzes dos faróis
e o brilho dos postes e das casas
e dos shows e dos restaurantes
e da vida correndo enquanto eu corria para fugir dela
Assim como antes eram luzes natalinas
eram prédios iluminados, eram vidraças refletidas
arecas-bambu pela calçada
e o mato ali na beirada
Mendigos dormiam na praça também
e eu queria tanto me juntar a eles
mas não podia, pois meu coração naquela hora
quase nem batia
Hoje tudo aquilo ficou pra trás
aqueles anos de guerra e paz
já não existem mais
e os eucaliptos mais crescidos, mais robustos
E a correria que eu faço agora sob sol a pino
naquela noite de luar
eu só queria era um pino
Mas quando o passado bate na porta
a gente o revisita, o revive
o reconfigura, e pode assim entender melhor
os próprios pensamentos, seus sentimentos
os tantos momentos
O que ficou pra trás não volta mais
mas o que está por vir
eu espero que venha com paz
Meio-dia e 26 minutos de 17 de dezembro de 2011.
Gostei do intimismo do poema. Abraço!
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