sábado, 1 de junho de 2013

Olho d'água

Psoríase não é comigo

nem tampouco doença pulmonar

duma gota dum olho d'água

calçada rachada

deságua o meu mar

nas ruas do teu lar.


Num casco velho na parede

chorume verde

papéis de bala pelo chão

o lixo na contramão

a mão segurando o pão

e sapatos do perdão.


Nem o ralo, nem a válvula

que segura aquela água

deságuam no meu peito

tantas dores desta alma

já no céu bem nublado

chuva, riscos, desculpas

nada.


Um cigarro, um cigarrinho

tudo poderia ser assim

tão mais do jeito que é.


As cadeiras só rolam

e a água sanitária

corre em minhas veias

um pano de chão rasgado

eu nem queria mesmo.


Uma brasa no meio do nada

eu bem que queria

estar por entre estas fatias

dum galho, dum macaco, dum rato

dum jenipapo

tumor, inhame, dor.


Fumaça arrastada

não me leva nada

esqueceste ainda como era

como foi e o que será

e por fim

na deságua do meu mar

encontrarei meu clímax.


(latidos)


Meia-noite de 1º de junho de 2013.

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